As funcionárias do hotel em Uvita foram amorosas: telefonaram para Sierpe para nos poderem informar sobre a passagem para a baía Drake. Disseram-lhes que era preciso apanhar um colectivo em Sierpe, e que o carro podia ir no ferry, e que custava 24 dólares, e que o último ferry partia às quatro da tarde. Partimos para esse trecho de cinquenta quilómetros muito seguros e cheios de certezas: Drake ali tão perto.
Sierpe é uma localidade tonta de sono no fim da estrada que dá acesso à península de Osa. Alguns quilómetros a sul começa o parque natural Corcovado, o maior e mais famoso da Costa Rica. O rio Sierpe desenha a aldeia numa península, e nós desenhámos nela elipses várias enquanto procurávamos o cais do ferry. Debalde. Não havia ferry, apenas um barco para uma dúzia de passageiros. Com quem é que as funcionárias do hotel teriam falado? E porque é que elas não faziam ideia de como se vai de Sierpe para Drake, apesar de viverem apenas a uma hora de distância dali?
Deixámos o carro com a maior parte da bagagem num parque vigiado, e partimos no colectivo. Para evitar os 10% de sobretaxa por usar cartão crédito, pagámos em dinheiro. Na Costa Rica há sempre surpresas dessas: o pequeno-almoço não incluído, a taxa aleatória por usar o cartão crédito, os impostos surpresa (para levar o carro de aluguer, ou os 20 dólares para poder sair do país, por exemplo) - haverá sempre algum motivo para pagar mais do que estava escrito.
A viagem de barco é pelo meio do Humedal Nacional Terraba Sierpe - um intrincado complexo de rios, riachos, canais e estuários, ora mais amplos ora mais estreitos, rodeados pelos magníficos mangues, árvores de raízes expostas. Os dois colectivos faziam o seu caminho a uma velocidade vertiginosa, parando apenas para deixar ou receber alguma encomenda de habitantes do manguezal, que estavam à espera no meio do rio em pacientes canoas. Abrandámos na travessia dos canais rodeados de mangues, chegámos a parar para ver um ou outro grupo de macacos, uma ou duas patas e um pouco da cabeça de algum bicho da preguiça. O rio ia alargando para a foz, e o dia escurecia à medida que o sol se punha por trás das montanhas costeiras. Mais à frente passámos por entre as rochas que marcavam a entrada no mar, o dia clareou de novo, seguimos ao longo daquela costa rica a caminho da baía de Drake.
Nos dias seguintes a baía viria a revelar-se um paraíso. Como já fora o próprio caminho para ela.
(parecia aquelas cenas de filme "por favor, siga aquele táxi")
"Ó mãe, e se te pusesses a olhar para as árvores em vez de as fotografar?"
(bem sei que o horizonte está inclinado, mas quero ver quem consegue
manter o horizonte direito num barco aos saltos sobre a rebentação da foz de um rio)
(a baía de Drake ao anoitecer)
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