26 março 2015

morning gloryville berlin



Cá em casa, a febre começou  há três meses. Da primeira vez, o Joachim levantou-se às cinco e meia da madrugada de uma quarta-feira, feliz da vida. Eu limitei-me a virar para o outro lado, e continuar a dormir. À noite, ele contou que se tinha sentido alegre e cheio de energia durante o dia todo.
Da segunda vez, a mesma coisa. Pelo menos até ao momento em que o telemóvel dele tocou, às seis e meia da manhã, e era a Christina: "mãe, o pai esqueceu-se do telemóvel? eu queria ligar-lhe a ver se nos encontramos no Morning Gloryville, porque estou aqui à porta".
Entretanto toda a gente começou a falar disso - até em Portugal -, e eu comecei a perceber que tenho as nozes e desta vez até tenho os dentes, e que é uma palermice ficar na cama a dormir mais meia horinha.

Foi ontem. Levantei-me de um salto às cinco e meia da manhã, lavei-me a correr, levei o Fox à rua (coitado do Fox, olhava com ar ensonado para mim e para os canteiros das árvores com cara de "digam-me que isto não me está a acontecer!") e depois saímos disparados para o outro lado da cidade.

Abriu às seis e meia, e estávamos entre os primeiros. Comprámos cafés e empadas de ovos e bacon, eu deambulei por ali a ver o espaço das massagens, o grupo que se formava para o yoga, a pintora. O Joachim falava com os amigos. A pista foi-se enchendo de gente com muito boa onda. Uma das organizadoras estava ainda mais alegre que de costume, e o motivo era fácil de compreender: o irmão dela apanha todas as semanas o voo 4U9525 da Germanwings, mas na terça-feira passada, por um acaso extraordinário, estava a caminho da China.

No Morning Gloryville não se permitem bebidas alcoólicas nem drogas, nem sequer fumo. Uma vez por mês, a uma quarta-feira, as pessoas levantam-se mais cedo, vão "rave your way into the day" (é o que está escrito no bilhete, de 10 euros), e depois - entre as oito e as dez da manhã, hora a que termina - tiram os disfarces, vestem roupas normais e vão trabalhar.

Gostei especialmente dos sorrisos fáceis e abertos na cara de todos. Parece-me que no próximo mês me levanto de novo às cinco e meia da manhã. E já nos imagino aos quatro, Matthias incluído, quando regressar da Costa Rica. Será que deixam entrar o Fox? Até podíamos fazer lá um piquenique familiar, junto ao canto da massagem. A malta jovem berlinense é muito tolerante, aposto que ninguém se ia chatear com estes cotas.
(Se os meus filhos lerem este último parágrafo vão enterrar a cabeça nas mãos e soltar o lamento embaraçado do costume: "ó, mãe...")





 








(O espaço estava cheio de jornalistas a entrevistar o pessoal. Até nós os dois fomos entrevistados e filmados para uma tv alemã. Espero que a câmara estivesse sem os cartões, ou assim. O entrevistador fartou-se de rir com a cena do Joachim num canto a tirar o fato de maluco e a vestir o fato de trabalho, gravata e tudo. "Só mesmo em Berlim!", rematou.)


(Os organizadores a dar o corpo ao manifesto.)







7 comentários:

Cristina Torrão disse...

«não se permitem bebidas alcoólicas nem drogas, nem sequer fumo», mas «empadas de ovos e bacon».
Hum, não sei...
Eu acho ficava na cama.

Matthias disse...

O mae!

- o teu filho

Helena Araújo disse...

hehehe - é bem verdade que não há longe nem distância. Consigo embaraçar o meu filho mesmo daqui para o outro lado do mundo!
:)

Helena Araújo disse...

Cristina, desculpa que te diga: não sabes o que perdes. Até as empadas são boas.

Cristina Torrão disse...

Helena, acredito, mas eu, para começar bem o dia, ficava-me pelo passeio com o Fox, nessa zona tão bonita onde vivem. E prefiro pão com manteiga e mel para o pequeno-almoço. Mas isto sou eu, que estou ainda mais cota do que tu... ;)

Gi disse...

:-D @ Matthias

Paulo disse...

Ahahahaha, Matthias.