Pelo que aqui vai a tradução rapidíssima:
Eleições na Grécia: é tempo de reduzir a dívida à Grécia do Syriza
Henrik Müller
As eleições em Atenas têm de marcar o início de uma nova política: a UE devia perdoar as dívidas aos gregos, e em troca exigir reformas férreas. A estratégia "poupar, custe o que custar" falhou.
Mostrar firmeza! Não fazer concessões! Nada de indulgências! A aliança de esquerda do Alexis Tsipras pode ser escolhida para formar governo no próximo domingo, mas as suas exigências não serão ouvidas: perdão da dívida? Fim da austeridade? Connosco, nem pensar!
Esta atitude está muito espalhada na Alemanha, e com certeza dominará o encontro dos ministros da Economia e das Finanças da Zona Euro na próxima segunda-feira. Contudo, não é nem razoável nem realista. Independentemente de quem ganhe as eleições em Atenas: no que diz respeito à Grécia, a política da UE, do FMI e - não menos importante - de Berlim vai ter de mudar. Um perdão dos créditos é inevitável. A questão é apenas saber se virá agora e permitirá um recomeço. Ou mais tarde, mas aí com custos sociais, políticos e económicos ainda maiores. Os hardliner em Berlim e Bruxelas fazem questão de insistir no reembolso como planeado - apesar de o plano não estar a dar bons resultados. Em última instância, apresentam argumentos morais: quem contrai dívidas tem de se responsabilizar por elas.
Consequentemente, os hardliner perguntam: aonde vamos parar se a Grécia, justamente a Grécia - o país que entrou no Euro com estatísticas falseadas - é beneficiada com um perdão da dívida de tantos milhares de milhões? Dava-se um sinal, argumentam eles, que seria catastrófico: um convite a todos os outros países do Euro para adiarem as reformas e para não se preocuparem tanto com o equilíbrio das contas do Estado, uma vez que no fim a comunidade - e, do ponto de vista dos alemães, a Alemanha mais que os outros - paga a factura.
"Moral hazard" ou guerra de princípios?
Os economistas chamam "moral hazard" a este efeito: o abuso da solidariedade na prossecução egoísta dos próprios interesses. Se cada um pensasse apenas em si, a Grécia (dívidas no valor de 180% do PIB) teria um perdão da dívida. A seguir viria Portugal (140% do PIB) e depois a Itália (150% do PIB). Por esta altura o mundo financeiro global já se encontraria numa situação catastrófica, porque um dos maiores mercados de obrigações do mundo teria implodido. Afinal de contas, a Itália tem dívidas no valor de 2,2 bilhões de euros.
Para evitar a corrupção moral e a consequente reacção em cadeia, segundo os hardliners, a Grécia tem de continuar em austeridade. Mesmo que a crise duradoura provoque uma devastação social evidente. Mesmo que a deflação que existe desde há vários anos faça com que o montante da dívida continue a crescer.
Para sermos claros: a Grécia não vai poder pagar as suas dívidas. Nem sequer vai estar em condições de pagar os juros a preços normais de mercado. Independentemente do partido que ganhar as eleições. O argumento do "moral hazard" pode ser utilizado em situações onde ainda há alguma coisa a ganhar. Mas transforma-se em guerra de princípios quando os problemas são tão grandes que, por mais que as pessoas se esforcem, não podem ser resolvidos.
O tratamento de choque não permitiu a redução da dívida
A Grécia esforçou-se enormemente nos últimos anos, mas os seus esforços têm sido em grande parte ignorados (especialmente pela Alemanha):
- As despesas públicas foram de tal modo cortadas que a Grécia atingiu um excedente orçamental de mais de 4% do desempenho económico - o que é, de longe, o valor mais alto dos países da OCDE. Ou seja: se descontarmos o serviço da dívida, as receitas do Estado grego são suficientes.
- A relação salários/produtividade desceu drasticamente nos últimos anos, como em mais nenhum país da OCDE.
- Devido à austeridade vigente desde 2008, os investimentos baixaram para quase zero - um desenvolvimento extremamente raro em tempos de paz.
- A economia implodiu: o PIB é hoje 25% inferior ao que era em 2008.
- O desemprego subiu para cima de 25%. Os desempregados de longo prazo não recebem qualquer ajuda do Estado.
Tudo isto representa um tratamento de choque sem precedentes. No entanto, as dívidas da Grécia aumentaram, em vez de diminuir.
É certo que a Grécia continua a precisar de fazer reformas estruturais. A administração pública ainda está longe dos standards ocidentais. Os interesses económicos instalados impedem o progresso, o que é agravado pelos oligarcas que se servem do Estado.
Mas: num contexto económico que não oferece perspectivas à maioria da população, é impossível operar essas transformações.
Syriza permite construir um futuro melhor
Um novo partido como o Syriza no governo representa pelo menos a oportunidade de quebrar a rigidez tradicional e pôr fim à espiral de fatalidade. Um perdão da dívida dar-lhes-ia força - melhor seria que fosse logo metade da dívida pública (estamos a falar de uma renúncia a 150 mil milhões de euros).
Seria um sinal importante para os outros Estados do Euro: quem poupa e faz reformas é recompensado com um perdão da dívida. Tal como no direito alemão das insolvências: o devedor não fica marcado para toda a eternidade; depois de uma fase de observação, é-lhe permitido um recomeço.
Podia ser o início de uma nova política: cortes drásticos com o objectivo de trazer dívidas incomportáveis para níveis razoáveis, e não apenas na Grécia, mas também as dívidas do sector privado na Espanha, Irlanda ou Itália. Deste modo a Europa podia ver-se livre do seu excesso de dívida que torpedeia o crescimento económico, e podia melhorar a sua competitividade.
Visto por este prisma, as eleições na Grécia podiam representar uma mudança para melhor, que nos levariam à raíz do problema: a dimensão da dívida.
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Roland Bäge
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