19 fevereiro 2015

e ainda dizem que os alemães não têm sentido de humor

Às sete da manhã estava a ver televisão. Eu, que nem à noite vejo, esta manhã estava a ver televisão, ainda o sol não tinha nascido. Se querem saber tudo: descobrimos em cima da hora que o Joachim estava sem camisas passadas, e lá fui eu tratar disso, enquanto ele preparava o pequeno-almoço.
As tarefas estúpidas são como os extremos: tocam-se. Pelo que liguei a televisão, e calhou de ser no Morgen Magazin, e mesmo a tempo de ver uma sátira ao 50 Shades of Grey muito à maneira alemã. (carreguem no link - está em alemão, mas só o ar com que eles fazem isto já vale bem a coisa)

A peça desenvolve-se assim: a locutora, com aquele ar típico da alemã que saiu de casa sem olhar para o espelho, entra numa loja de ferragens e tenta recriar algumas cenas do 50 Shades com o dono da loja. Ela mostra-lhe uma cena do filme, que os dois copiam logo a seguir, e foi uma sorte a camisa do Joachim não ter ficado toda queimada. O Herr Düring explica que tem braçadeiras para "pequeno" e "grande", e riem-se os dois. Depois ele mostra-lhe o non plus ultra das braçadeiras: com velcro, para serem reutilizáveis, e ela ri-se, toda satisfeita, "com isto pode-se trabalhar!"

Cena seguinte: a fita-cola. Traduzo (ó Speeeeeedy! anda cá traduzir isto, ó faz favor!) o filme a partir de 1'20'':

Enfim, a cena da fita-cola não nos faz avançar muito do ponto de vista erótico. Vamos para a cave, para tentar uma aproximação. E de facto, na zona dos cabos chegamos mais perto um do outro.
- Este é o seu cabo favorito, Herr Düring?
- Sim, e ainda por cima o metro só custa 1,95 €.
- Wow! Que se pode desejar mais? Barato, e agradável na pele.
- Agora vamos ver a cena do filme, Herr Düring...

[mostram a cena do filme em que ela lhe mostra cordas]
Ora, o que ela faz já o meu Düring sabe fazer há séculos!
- Herr Düring, acho-o cada vez mais interessante.
- Obrigado.
- De nada. 


De volta ao rés-do-chão já não há como travar, e o dono da loja revela-me o instrumento que mais o acelera.
- É muito agradável passar isto sobre a pele nua, nas costas...
- Sim... mmmmh, ah, sim, sim! hahahaha


Entre nós os dois a coisa começou a aquecer, sem dúvidas. Mas, na realidade, toda a loja está escaldante.

Primeiro cliente (homem):
- A sua mulher sabe que o senhor está aqui?
- Não.


Segundo cliente (homem):
- O que é que o senhor quer comprar?
- Lâmpadas.
- E que tenciona fazer com elas?
[reparem no sorriso dele, é o máximo]


Terceiro cliente (mulher):
- O meu espremedor de limões estragou-se.
- Como? Porquê?
- Era velho. Ou então, sou eu que sou muito fogosa
.

Acho que vou ter de começar a levantar-me mais cedo para ver o morgen magazin da ZDF. Há muito tempo que não me ria tanto ainda antes do primeiro café da manhã. Gosto de tudo: da ideia de improvisar cenas de erotismo com o homem de uma loja de ferragens, do modo natural como todos entram na brincadeira, da mistura entre erotismo e diálogos típicos de alemães a apreciar material de loja de ferragens, do ar desalinhado da mulher (é tão refrescante ver estas profissionais da televisão que não precisam de se disfarçar de bonecas) e sobretudo da segurança com que ela se põe nestas situações de auto-ridicularização. Nesta peça, a Sabine Platz está uma maravilha. Mas não é só ela: fico a pensar que uma coisa assim só é possível numa sociedade em que a mulher é realmente respeitada.


6 comentários:

Paulo disse...

ahahahahahah

Paulo disse...

Não sei se aproveite para ir engomar também qualquer coisa.

Helena Araújo disse...

Que bom que também os achaste tão divertidos, Paulo! Ri-me tanto que desconfiei que estava a ficar maluquinha.
Adoro aquela mistura de flirt com frases práticas.

(ora aí estava uma boa ideia: nós os dois a passar a ferro e a ver o Extra 3 no NDR, o Heute-Schau, e agora o morgen magazin. Com programas destes, até podíamos abrir uma empresa de engomações! Ganhávamos a vida a rir.)

Paulo disse...

Se os clientes não se importarem de ter vincos na roupa, uma vez por outra uma camisa queimada...

Carlos disse...

Helena, pelo minuto 2'21 há uma troca de olhares e uns sorrisos que me fizeram rir à gargalhada.

Helena Araújo disse...

Pois é!
E a música, quando eles se dirigem à cave?
Oh, pá, quanto mais vejo isto mais me rio. :)