Às sete da manhã estava a ver televisão. Eu, que nem à noite vejo, esta manhã estava a ver televisão, ainda o sol não tinha nascido. Se querem saber tudo: descobrimos em cima da hora que o Joachim estava sem camisas passadas, e lá fui eu tratar disso, enquanto ele preparava o pequeno-almoço.
As tarefas estúpidas são como os extremos: tocam-se. Pelo que liguei a televisão, e calhou de ser no Morgen Magazin, e mesmo a tempo de ver uma sátira ao 50 Shades of Grey muito à maneira alemã. (carreguem no link - está em alemão, mas só o ar com que eles fazem isto já vale bem a coisa)
A peça desenvolve-se assim: a locutora, com aquele ar típico da alemã que saiu de casa sem olhar para o espelho, entra numa loja de ferragens e tenta recriar algumas cenas do 50 Shades com o dono da loja. Ela mostra-lhe uma cena do filme, que os dois copiam logo a seguir, e foi uma sorte a camisa do Joachim não ter ficado toda queimada. O Herr Düring explica que tem braçadeiras para "pequeno" e "grande", e riem-se os dois. Depois ele mostra-lhe o non plus ultra das braçadeiras: com velcro, para serem reutilizáveis, e ela ri-se, toda satisfeita, "com isto pode-se trabalhar!"
Cena seguinte: a fita-cola. Traduzo (ó Speeeeeedy! anda cá traduzir isto, ó faz favor!) o filme a partir de 1'20'':
Enfim, a cena da fita-cola não nos faz avançar muito do ponto de vista erótico. Vamos para a cave, para tentar uma aproximação. E de facto, na zona dos cabos chegamos mais perto um do outro.
- Este é o seu cabo favorito, Herr Düring?
- Sim, e ainda por cima o metro só custa 1,95 €.
- Wow! Que se pode desejar mais? Barato, e agradável na pele.
- Agora vamos ver a cena do filme, Herr Düring...
[mostram a cena do filme em que ela lhe mostra cordas]
Ora, o que ela faz já o meu Düring sabe fazer há séculos!
- Herr Düring, acho-o cada vez mais interessante.
- Obrigado.
- De nada.
De volta ao rés-do-chão já não há como travar, e o dono da loja revela-me o instrumento que mais o acelera.
- É muito agradável passar isto sobre a pele nua, nas costas...
- Sim... mmmmh, ah, sim, sim! hahahaha
Entre nós os dois a coisa começou a aquecer, sem dúvidas. Mas, na realidade, toda a loja está escaldante.
Primeiro cliente (homem):
- A sua mulher sabe que o senhor está aqui?
- Não.
Segundo cliente (homem):
- O que é que o senhor quer comprar?
- Lâmpadas.
- E que tenciona fazer com elas?
[reparem no sorriso dele, é o máximo]
Terceiro cliente (mulher):
- O meu espremedor de limões estragou-se.
- Como? Porquê?
- Era velho. Ou então, sou eu que sou muito fogosa.
Acho que vou ter de começar a levantar-me mais cedo para ver o morgen magazin da ZDF. Há muito tempo que não me ria tanto ainda antes do primeiro café da manhã. Gosto de tudo: da ideia de improvisar cenas de erotismo com o homem de uma loja de ferragens, do modo natural como todos entram na brincadeira, da mistura entre erotismo e diálogos típicos de alemães a apreciar material de loja de ferragens, do ar desalinhado da mulher (é tão refrescante ver estas profissionais da televisão que não precisam de se disfarçar de bonecas) e sobretudo da segurança com que ela se põe nestas situações de auto-ridicularização. Nesta peça, a Sabine Platz está uma maravilha. Mas não é só ela: fico a pensar que uma coisa assim só é possível numa sociedade em que a mulher é realmente respeitada.
6 comentários:
ahahahahahah
Não sei se aproveite para ir engomar também qualquer coisa.
Que bom que também os achaste tão divertidos, Paulo! Ri-me tanto que desconfiei que estava a ficar maluquinha.
Adoro aquela mistura de flirt com frases práticas.
(ora aí estava uma boa ideia: nós os dois a passar a ferro e a ver o Extra 3 no NDR, o Heute-Schau, e agora o morgen magazin. Com programas destes, até podíamos abrir uma empresa de engomações! Ganhávamos a vida a rir.)
Se os clientes não se importarem de ter vincos na roupa, uma vez por outra uma camisa queimada...
Helena, pelo minuto 2'21 há uma troca de olhares e uns sorrisos que me fizeram rir à gargalhada.
Pois é!
E a música, quando eles se dirigem à cave?
Oh, pá, quanto mais vejo isto mais me rio. :)
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