29 abril 2014

"este país"




Regressei ontem a Berlim, depois de mais de duas semanas a trabalhar na Arménia. Daqui a nada começo a contar a aventura com as respectivas fotografias.

Passei este tempo a ver o meu país pelo seu avesso: a nossa terra não foi retalhada pelas potências vizinhas, o nosso povo não viveu mil anos na condição de minoria sem direitos, não foi alvo de massacres repetidos, não está completamente à mercê de poderes e interesses alheios.

Durante duas semanas fui confrontada diariamente com a injustiça da História, e senti um certo embaraço por ter nascido, sem mérito nenhum, num lugar privilegiado. Nós, os portugueses, não sabemos a sorte que temos. Lamentamo-nos (desde sempre nos lamentámos) e temos um discurso derrotista, falamos com desprezo sobre o "este país" que é o nosso. "Este país" já nos deu oito séculos de segurança, e hoje faz-nos habitantes de pleno direito do continente mais apetecido.

Quantos países do mundo nos exigem visto para os podermos visitar? Quantos países nos recusam esse visto sem dar qualquer explicação? Nenhum dos arménios que tão bem nos acolheram pode fazer planos de ir visitar os seus novos amigos no país onde vivem. Vista do lado de fora, a "fortaleza Europa" afigura-se como um lugar mítico e inatingível.

E nós, aqui do lado mais confortável da História, a dizer "este país".

4 comentários:

Olinda Melo disse...


Gostei muito do seu texto e das suas considerações.

:)

Olinda

jj.amarante disse...

É visitando os outros países que se fica a conhecer melhor "este país". Na próxima semana vou estudar Portugal indo ao Japão.

Anónimo disse...

Eu já disse umas coisas dessas lá no burgo e ficaram de olhos esbugalhados a olhar para mim como se tivesse chegado de Marte.

Helena Araújo disse...

jj.amarante,
tem graça essa de ir ao Japão conhecer Portugal. Mas é isso mesmo.

txtículos,
pois é, enquanto escrevia também pensava: "vou levar forte e feio" ;-)

Olinda,
obrigada!