13 fevereiro 2012

começo a desconfiar que estou num filme...

Não é possível acontecer tanta coisa boa todos os dias. Começo a desconfiar que escorreguei para dentro de um filme do Woody Allen, e não combinámos previamente o cachet. 

Ontem, por exemplo: começámos por ir visitar uma igreja de Dahlem com uma acústica extraordinária, a Jesus-Christus-Kirche, onde Karajan gravou tantos dos seus concertos. O coro da paróquia estava a ensaiar, pelo que nos sentámos a saborear a acústica daquele espaço. De caminho pudemos ver mais uma vez como os alemães são: o maestro (mais interessante ainda: a substituta do maestro, porque este abandonou a sala por uns minutos) obrigou aquele simples coro paroquiano a repetir uma frase cinco vezes, até ter a entoação pretendida e as respirações certas. Estavam a ensaiar um Pai Nosso, e eu - tranquilamente feliz no meu banco ao fundo da igreja - só me lembrava de parafrasear: o prodígio nosso de cada dia nos dai hoje.

Estariam uns sete graus negativos, mas um belíssimo sol. Não fossem os dedos gelados que seguravam a máquina fotográfica enquanto fotografava a casa do pastor, ao lado da igreja, e quase acreditaria estarmos no sul:




O Wannsee estava gelado. Lindo. Havia pessoas a passear sobre o lago, havia até ciclistas no gelo (teriam correntes nas rodas da bicicleta?)


 (foto do Paulo)

 (foto do Paulo)

A ponte de Glienicke, a ponte onde se trocaram espiões, estava literalmente preparada para nova filmagem de "o espião que veio do frio":



 (foto do Paulo)

No centro da cidade parte do rio Spree tinha também congelado, e na parte mantida navegável flutuavam ociosos blocos de gelo.



O filme que vimos ontem na Berlinale era o Metéora. Muito poético, com extraordinários momentos de animação. A fotografia do programa enganou-nos um bocadinho (íamos à espera de hora e meia de cenas assim, mas pelos vistos quando fizeram as filmagens havia muito nevoeiro, afinal não é só Berlim que às vezes nos troca as voltas ao cenário) - mas mesmo assim, um belo filme.



E fim de tarde na casa de chá do Tajiquistão, com russischer zupfkuchen, um bolo que dizem ser russo, mas os russos dizem que é alemão. Mais um caso de culinary legend para juntar ao kebab turco inventado em Berlim e ao burrito mexicano inventado em San Francisco.



 (foto do Paulo)

Mas o melhor de tudo é andar a passear nesta cidade com amigos que se deixam maravilhar por ela. Redescobri-la pelos olhos deles, ir deixando em cada canto visitado um pequeno tag mental "já fui feliz aqui".

(o que eu gosto dessa invenção do Luís Novaes Tito!)

5 comentários:

Gi disse...

Lindo!
Obrigada por partilhares/partilharem.
:-)

mdsol disse...

Que bem que me faz ler estes "post". Abençoada.

:)))))

Luís Novaes Tito disse...

e eu a gostar da expressão "tag mental"
:)

Helena Araújo disse...

:-) para todos.

mdsol, isto é só um resumo abreviado, digamos assim, do que têm sido estes nossos dias prodigiosos. Não dá é para preparar, viver e vir contar, tudo ao mesmo tempo!
Ainda bem que gostas de ler. Não tinha bem a certeza que isto interessaria a alguém.

io disse...

Que maravilha! Aqui pela costa piegas oeste ficamos muito felizes e de cantos da boca virados para cima a ler estes belíssimos posts e a saber-vos, naturalmente, muito alegres, felizes e passarem uns belíssimos dias. Nada de espantar quando 3 anjos, do melhor, se resolvem encontar sobre o céu de Berlim. :-) Que continuem assim! Beijinhos para todos