15 fevereiro 2012
gente como nós
Eu, que não me ensaio nada para largar no duche a ária da Rainha da Noite (sim, se houvesse uma Liga dos Chuveiros Anónimos sei de um que se ia lá inscrever antes de todos os outros), chego a este endaaaaaiiaiwilolueisloviuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu e dou-me conta das minhas limitações.
A Whitney Houston tinha uma voz prodigiosa, ofereceu-nos momentos musicais que são puro prazer - e sofria horrores. Perante a sua morte (e a do Michael Jackson, e a da Amy Winehouse, entre tantas outras) sinto-me de algum modo em falta: pessoas que tanto nos deram morrem vencidas pelos problemas próprios desse terrível circo de onde brotam os pedaços de sublime que nós saboreamos. Eles perdidos numa imensa tempestade de show business, criatividade e génio, ilusão e desengano, e nós, alheios ao seu sofrimento, consumindo apenas.
Eu sei: ninguém os obrigou a entrar nesse torvelinho, nem todos morrem assim, etc.
Mas estas mortes interpelam-me. Mostram-me que essas estrelas eram simplesmente seres humanos como todos os outros, gente como nós, e não receberam a ajuda de que tanto precisavam. Falhámos-lhes.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
8 comentários:
Redondamente. A eles e muitas vezes a quem está próximo de nós. Mas lidar com a infelicidade, nossa ou alheia, é lidar com o desconhecido (embora saibamos que o amor é o único antídoto).
Falhámos-lhes ou falharam-se?
Porque há muita outra gente também como nós, só que muito mais genial (também genial), que consegue levar vidas serenas, construir famílias e dar o seu contributo para a Humanidade.
Nota que não há nisto nem ponta de censura, só compaixão.
Sobre I Will Always Love You, ouve o orignal da minha adorada Dolly Parton (casada há 45 anos com o mesmo senhor), autora de letra e música.
http://gotaderantanplan.blogspot.com/2007/07/dolly-parton-minha-menina-dolly.html
Pedro, não me iludo pensando que podia ter ajudado a Whitney Houston. Talvez lhe pudesse ter escrito uma cartinha a agradecer o quanto me deu, e o quanto a admiro, isso é verdade. Mas nem sei se a leria, e se a meteria numa das caixas de correspondência blablabla.
Lidar com a infelicidade (mesmo a dos que nos são próximos) é lidar com o desconhecido, e também com a nossa impotência. Vemos as pessoas a afundar-se, e muitas vezes não temos maneira de as ajudar.
Era mesmo à palavra impotência onde queria chegar. E para nós que assistimos à infelicidade, é muito complicado geri-la também (mas sim, acredito que podemos fazer a diferença, mesmo com a carta que não é lida).
Teresa, não tinha lido esse teu post. O original é muito bonito, mas não me impõe tanto respeitinho. Olha que até estava capaz de tentar esse endaiiai-etc. no próximo duche que tomar... ;-)
Como já disse ao Pedro: a sorte das estrelas não está na minha mão. E é verdade que há umas que passam por isto sem serem destruídas (penso logo na Meryl Streep, por estes dias aqui em Berlim), e outras não. Serão com certeza mais frágeis, precisarão ainda de mais apoio.
O que me questiona é a minha atitude de consumidor. Sabes, nem é por elas, é por mim, para educar a minha humanidade. Por exemplo: como reajo quando vejo na capa de uma revista a foto de uma destas estrelas a passar um mau momento?
Pedro, vou pensar nisso. Da próxima vez que vir na capa de uma revista sinais de sofrimento em algum artista que admiro, vou mesmo pensar nisso. A sério.
Falhamos tantas vezes. E com tanta gente, tão perto de nós.
Estes têm a visibilidade que os outros não têm. Só isso.
George Sand,
sim, é verdade. Estes têm mais visibilidade, para o melhor e o pior: o seu fracasso e a sua fragilidade são observados e analisados por milhões e milhões de pessoas, muitas vezes impiedosamente. Podemos ser muito cruéis com gente que nos dá muito.
Enviar um comentário