A Christina nasceu duas semanas depois da data prevista. Durante esses dias de espera (se disser "de ansiosa espera", é um eufemismo descarado) ia várias vezes por hora ao cenário que tinha preparado para ela: controlar se o cobertor no bercinho continuava fofo, olhar as roupinhas minúsculas e o ursinho que a esperavam.
Quase dezoito anos mais tarde, vivo a mesma cena pelo avesso: vou ao quarto do Matthias procurá-lo no cenário que ele próprio construiu.
Descubro, com uma enorme gargalhada, que deixou vários post-it com recados para o Miguel* (o miúdo colombiano que decidiu regressar por dois meses à nossa casa, e a quem o Matthias ofereceu o seu quarto desocupado, por ser melhor que o das visitas):
- Na porta do armário: "esta parte do armário é para ti"
- Nos patins de gelo: "caso queiras ir patinar"
- Nas bandeiras do Hertha BSC: "para agitar com força no Olympia Stadion!"
O Matthias faz hoje 15 anos. Do outro lado do mundo. Os avós emprestados vão-lhe fazer um bolo de chocolate, como é tradição nos nossos aniversários. Ontem, ele próprio queria fazer um bolo para levar para a escola, mas disseram-lhe que lá isso não é costume. Não é? Podia começar a ser - para isso é que os jovens se entregam à árdua tarefa de fazer pontes entre as culturas.
***
* O Miguel, pois. O nosso Miguelito. Vai ficar cá em Novembro e Dezembro. A família convidou o Matthias para fazer férias com eles no fim do ano: Colômbia, Cancún, Miami - todas as despesas incluídas, até os voos. O rapaz, depois de pensar seriamente, agradeceu muito mas declinou o convite: tem outros planos.
(Gostei de ver: não é deslumbradinho)
26 comentários:
Ó bolas, e agora que eu estava a pensar aceitar a tua oferta para Dezembro ;)
PS: Acho que o objectivo principal da pedagogia da minha mae era que nao fossemos "deslumbradinhos". Acho que se eu matasse um homem (por exempo da secretaria da universidade) a minha maetinha menos vergonha de mim do que se eu aparecesse em casa com os olhos a brilhar e dissesse "ele tem uma casa com piscina".
Rita, ainda temos um quarto de visitas vago!
Vens?
(só cá para nós, que a tua mãe não leia: deves ter tido uma infância muito difícil...) (hihihihi)
Bom dia, mamã! ;-)
Ai! Parece-me que já estou a ouvir vozes?!...
(Bom dia, anónimo brincalhão)
Desculpa se desencanto o teu cenário. Sou eu, a CristinaGS. Esta coisa saiu-me das mãos antes de eu poder dizer quem era, mas o que eu queria mesmo era desejar-te um bom dia e enviar-te uma talhada de sol, deste que ainda dura aqui pela lísbia. Beijinhos
:-)
E não é que, agorinha mesmo, o cinzento deu lugar a uma "talhada de sol" que me entrou pela casa adentro?
Tu tens poderes!
«não é deslumbradinho»
Isso é o resultado, certamente, de uma boa educação.
(Já agora: seguindo uma das ligações fui parar à Páscoa da infância numa aldeia minhota. É muito atrevimento perguntar em que concelho do Minho se situa essa aldeia? Também tenho uma costela minhota -- tão-só por isso.)
Não sei, Carlos. Desconfio que o rapaz já nasceu assim...
Ele é que nos educa.
A aldeia minhota fica algures entre Esposende e Viana do Castelo. E a sua costela, de onde vem?
Ena, muitos Parabéns ao Matias! E votos de muitas Felicidades, pela vida fora, como Estudante, como pianista, como xadrezista, etc., etc.! E sobretudo como Pessoa...
Os quatro das Neves Alves.
A minha costela minhota vem, por via materna, de Barcelos.
(E tenho amigos e família na zona que refere, perto do Neiva.)
A minha mãe era de perto de Barcelos. Às tantas somos primos!
:-)
A. Castanho,
obrigada! Beijinhos para vocês todos.
[voltando um pouco atrás]
É modéstia sua, Helena. A educação teve, certamente, efeito; e foi tão boa que funciona, agora, em dois sentidos! :-)
Às tantas... Em Portugal, país tão pequenino, somos todos uma família! :-)
(A consanguinidade seria uma explicação plausível para a elevada quantidade de malucos de tão bem desgoverna isto.)
Consanguinidade? Não sei se explica tudo: os islandeses são muito menos, e governam-se muito melhor!
Estava a brincar. Mas, sim, é verdade -- pelo menos, aprendem com os erros.
(não é «teve, certamente, efeito», mas antes «foi, certamente, responsável»)
Carlos,
eu respondi à sua brincadeira com um sorriso - não notou?
(esta internet!)
Quanto à minha modéstia: acredito realmente que o rapaz já nos nasceu assim. Ele é impressionante. Mas pronto, está bem: provavelmente não fizemos tudo mal...
(isso, e também as muitas viagens: para quem aos 14 anos já conhece várias partes dos EUA, um bom pedaço de Europa e até um bocadinho engraçado do Brasil, uma viagem daquelas é tentadora, mas não é uma proposta irrecusável.)
15 anos é lindo.
muitos parabéns, a ele e a vós, pais.
Helena, a minha afirmação visava mais convencer-me a mim próprio do que outra coisa qualquer! Chegados aqui, começamos a considerar plausível qualquer teoria, por muito absurda que seja.
Modesta, sim, mas babada... e faz muito bem! :-) (Se uma mãe não se babar pela sua cria, quem o fará?!)
Sem-se-ver, obrigada!
Ontem, dia 20, também fez anos o meu filho mais novo. As "amigas portuguesas" quando fomos jantar informaram-me logo que o Matthias também fazia anos e que já lhe tinham dado os parabéns no facebook! Embora com algum atraso os meus parabéns a ele e à família toda!
Lucy, o mundo é mesmo muito pequeno!
Os meus parabéns para o outro rapaz do 20 de outubro - imagino que também seja boa colheita!
Atrasados mas sentidos deixo muitos parabéns ao Mathias e, claro, à mamã. :)))
Muitos Parabéns, Helena!
Beijinhos
Ó pá, venho tão atrasado.
Muitos parabéns ao Matthias e aos pais dele. E à irmã também, pronto.
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