Não vou falar propriamente do novo manifesto, que pode ser lido aqui, mas apenas de um facto curioso: o seu terceiro ponto, que abaixo transcrevo, é algo que também na Alemanha suscita cada vez mais queixas.
Concretamente: contra a Angela Merkel, que vai ao Parlamento defender determinadas políticas afirmando que são inevitáveis. Ainda outro dia ela teimava que o pacote de medidas para ajudar os países do euro que estão em dificuldades é - adivinharam! - inevitável. E o pessoal protesta, que inevitável é a avó dela e tal, e que não há nada mais anti-democrático que vir com propostas que não admitem discussão.
Parece que andamos todos ao mesmo, mas de lados diferentes do espelho.
"Por fim, o terceiro e mais inquietante eixo desta ofensiva anti-Abril assenta na imposição de uma ideia de inevitabilidade que transforma a política mais numa ratificação de escolhas já feitas do que numa disputa real em torno de projectos diferenciados. Este discurso ganhou terreno nos últimos tempos, acentuou-se bastante nas últimas semanas e tenderá a piorar com a transformação do país num protectorado do FMI. Um novo vocabulário instala-se, transformando em «credores» aqueles que lucram com a dívida, em «resgate financeiro» a imposição ainda mais acentuada de políticas de austeridade e em «consenso alargado» a vontade de ditar a priori as soluções governativas. Esta maquilhagem da língua ocupa de tal forma o terreno mediático que a própria capacidade de pensar e enunciar alternativas se encontra ofuscada."
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