01 março 2010

a vida interior das máquinas (1)

Quando fomos morar para a Califórnia, comprámos um carro usado que - descobrimos depois - estava num estado lastimável. Volta e meia, dava-lhe um fanico no meio da estrada, e ficava parado. E lá telefonava eu ao AAA, lá vinha o reboque, lá íamos nós para uma oficina.
Um belo dia, o carro parou no centro de San Francisco, numa zona de intensa circulação e proibição absoluta de paragem.
Saí do carro à procura de um telefone para chamar o AAA, e vi, com imenso alívio, um polícia a avançar na minha direcção.
"Vai-me ajudar", pensei eu, e fiz a minha melhor voz de galinha americana, "oooh, I'm so glad that you are..."
Cortou-me a palavra: "Minha senhora, tire imediatamente o seu carro daqui!"
"Eu bem queria, mas ele está avariado e não anda."
Como se não tivesse ouvido o que eu dissera, gritou-me:
"META-SE NESTE CARRO, E PONHA-SE A ANDAR DAQUI PARA FORA! É TERMINANTEMENTE PROIBIDO PARAR NESTE SÍTIO."
Bem, quem não ouve tem de sentir, como dizem os alemães. Para lhe mostrar o meu problema, entrei no carro, meti a chave na ignição, liguei... e o estúpido pegou e começou a andar.
Disse rapidamente ao polícia "garanto que não percebo isto" e fui-me embora.

Era um carro americano. Algo me diz que ele percebeu melhor que eu que aquele polícia não estava para brincadeiras.

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