22 março 2010

change we can


A América está menos livre: a partir de hoje, já não será tão fácil morrer na valeta, sob o olhar indiferente de gente boa e simples que resolve os golpes do destino com um mero "se isso te aconteceu, alguma terás feito".
(Não é só Saramago que não percebeu o Livro de Job, na América também há alguns bons cristãos que)

Queria dar vivas pelos EUA e pelo Obama (que estava em risco de entrar para a História como o maior fala-barato de todos os presidentes), queria manifestar estranheza por só agora os EUA escolherem esta via que é tão óbvia para os europeus, queria sugerir que alguns pontos desta reforma fossem copiados pela Europa, queria exprimir preocupação pelos sinais que deste lado do Atlântico surgem no sentido de reduzir a responsabilidade do Estado social. Mas neste momento histórico só me lembro daquele pai de família em quem se descobriu um cancro, e que se deixou morrer (era diabético, e simplesmente recusou-se a tomar os medicamentos) para não deixar a família arruinada.

Ao pequeno-almoço, os meus filhos começaram a cantar isto:

7 comentários:

io disse...

O server capitalista que me rege impede-me de ver e ouvir vídeos, pelo que não sei o que é que os teus bambinos estiveram a ouvir esta manhã. Sei sim, que esta mesma manhã, troquei a música da antena 2, pelas notícias da TSF e fiquei profundamente orgulhosa de ter acreditado no yes we can. Em tempos de completa desacreditação pelo burgo luso, é bom sabermos que há sempre e ainda renovados motivos para acreditar. Um beijo para ti cachopa.

Gi disse...

O que me agrada na maneira de fazer política na América é a clareza: o candidato apresenta um programa e, uma vez eleito, esforça-se claramente por cumpri-lo. Faz a proposta, negoceia-a, altera-a, pressiona, cancela viagens para se concentrar naquilo que é importante.

Congressistas e senadores pensam, falam, escutam quem os elegeu, discutem, negoceiam, votam. Os eleitores manifestam-se, escrevem cartas aos seus representantes, emocionam-se.

Tudo isto parece claro. Dá uma sensação de confiança e responsabilidade mútua, não dá?
Ou será só por estarmos longe? E o jardim da vizinha parecer mais verde e florido visto à distância?

Paulo disse...

Meanwhile...

Helena Araújo disse...

E mais isto:

The Republicans have turned their entire website at gop.com to an effort to fire Nancy Pelosi. Crazy!

Tenta-se gop.com e vai-se dar a:
http://www.gop.com/firepelosi/

Por acaso, agora que caí em mim, lembrei-me que aquilo está mesmo muito mau. No Verão passado um amigo contava-me que há cada vez mais ódio na rua, e até crimes de ódio. Como é que isso se chama? Ah, causas fracturantes.
O país está cada vez mais dividido.

Por outro lado, quando foi para acabar com a escravatura também não foi propriamente um passeio... E para dar reforma a todos, e para dar direitos iguais a todos, e assim. Nunca foi fácil.

antuérpia disse...

Fugiu, o meu comentário, nem sei para onde. A bem de ver era meio chato, não se perdeu nada. Ao que interessa: Obama conseguiu e há que congratulá-lo (eu, céptica me confesso) ;)).

Helena Araújo disse...

Antuérpia,
Os meus amigos americanos estão tão decepcionados com todas as concessões que ele foi obrigado a fazer, que quase nem se conseguem alegrar.
Mas vejo isto como um início fundamental. E uma etapa importante na vida política do presidente. Se o Obama tivesse perdido esta batalha, estava arrumado.

antuérpia disse...

Percebe-se (não é perfeita, pelos vistos e ainda ficam 5% de americanos de fora), mas deviam, que este é, como dizes, um caminho sem volta, espero...
Mesmo que os republicanos continuem a colocar veneno no caminho da reforma da saúde (e quanto, que aquilo atingiu níveis disparatados, os EUA conseguem o melhor e o pior, de facto), já nunca nada será como dantes.