24 janeiro 2010

ontem fui à Sibéria ver um terreno para comprar...

O José Bandeira põe-se com estas gracinhas


e se calhar nem sabe como está coberto de razão: o nosso apartamento não é bem uma casa, é mais parecido com um coador. Para tentar aquecer um pouco as divisões, aquecemos também metade do bairro. E os vizinhos são umas ingratas criaturas que ainda não nos começaram a enviar cartinhas de agradecimento.

De modo que ontem metemo-nos no carro, ligámos a chauffage ao máximo, e fomos muito quentinhos até ao centro da cidade, onde fica a Sibéria: doze graus negativos, a meio do dia, e apesar do sol fantástico.
No nosso bairro está bem mais quente - um doce ao leitor que conseguir adivinhar graças a quem...
(suspiro e ranger de dentes, perdão, bater de dentes)


Na Sibéria estivemos a ver um terreno junto a um rio, onde vão fazer algumas casas. O arquitecto, um valente com um boné sem protecção para as orelhas, ia explicando o projecto, e as palavras saíam-lhe da boca e gelavam antes de chegar a nós. Mas deu para perceber alguns estilhaços de sílaba e o resto fomos tirando pelo sentido. Pelo sonho é que vamos, melhor dizendo: parece que seria possível ter uma casa no meio de um grande jardim comum, com um cais privado para prender o barquinho - no centro de Berlim. O problema é outra vez o tal zero a mais - e depois dizem que é feio pensar mal dos árabes, mas, digam lá, quem foi que inventou o zero, quem foi? Heinhe?

A Sibéria, quem diria, tem imenso para oferecer. No mesmo sítio onde vão construir as casas estão também a arranjar um prédio. Com eficiência energética 40: parece que é uma coisa formidável que quase nem é preciso ligar os aquecedores nem nada. E com esta vista. Para alugar por um preço inferior em 1/3 ao que nos custa o nosso coador actual. E na mesma com cais privado para o barquinho.





Mas eu agora não digo os preços, porque a malta de Munique mudava-se toda para cá.
E eu, de Munique, só queria uma. Os outros podem ficar lá todos.
E desconfio que os de Lisboa também mudavam. Ah, mas os de Lisboa (os que eu conheço) podem vir.



Adenda, antes que comecem a chover os comentários de correcção: sei muito bem que não foram os árabes que inventaram o zero. Foram os portugueses (esta parte ainda é segredo de justiça, por isso não espalhem muito por aí).
Bem, mais ou menos a sério: uns dizem que foram os hindus, outros dizem que foram os maias da Mesoamérica, e ainda só googleei meio minuto.
Mas se eu me ativesse aos factos, perdia a piadinha dos árabes, que são o pau para toda a colher do nosso tempo. Afinal de contas, quem é que diz mal dos hindus?
Ai, esta minha vida de engraçadinha: é só decisões difíceis!

9 comentários:

jj.amarante disse...

Essa sua correcção dos árabes para os hindus veio mesmo a tempo. Mesmo assim gostaria de apontar que neste tema talvez se revele algum eurocentrismo: falamos das descobertas feitas pelos gregos há muitos séculos, pelo nome do autor, o princípio de Arquimedes, o teorema de Tales mas quando se trata dos hindus, o autor permanece anónimo. Ou permanecia, agora com a a internet é muito mais fácil ter acesso a esta informação, embora com alguns riscos quanto à respectiva qualidade. Transcrevo um comentàrio que fiz sobre este assunto noutro local: «... confesso que duvidei da cronologia da adopção da representação posicional dos números, citada como em 100 AC, tendo Aryabhatta inventado o zero no séc. V, cerca de 600 anos depois. Na realidade julguei que as duas descobertas tinham sido simultâneas mas aprendi depois que usavam espaços em branco entre os algarismos numa primeira fase, passando o zero a preencher esses espaços em branco, vários séculos mais tarde...»

snowgaze disse...

A malta de Munique sabe bem que os preços em Berlim são uma pechincha. ;) Só que gostam das montanhas, e de estar mais perto de Itália, é só isso.

Helena Araújo disse...

Ó Snow, não sejas pedante. ;-)
Pois se eras tu, justamente tu, a única de Munique que me dava jeito ver por aqui!
Além disso, quem pensa na Itália se tem a Turquia literalmente ao lado?
Quanto às montanhas: parece que vão fazer uma em Tempelhof!

Rita Maria disse...

A Helena escreve sobre a malta de Munique para se furtar ao verdadeiro estigma que se está a espalhar sobre Berlim...sim, porque quando os rapazes e raparigas de Prenzlberg se queixam da invasao dos endinheirados do Sul nao etao a falar dos bávaros mas dos...vá, Helena...

Helena Araújo disse...

dos... suábios?!

Ensina-me, google, ensina-me!
Não faço a menor ideia.
Já hoje li muito mal-dizer de Prenzlauer Berg. Os amigos que visitam Berlim vão até lá e gostam muito, mas eu, para te ser sincera, ainda não. Em dois anos de Berlim, ainda não.
De que é que os P'berger se queixam?

Rita Maria disse...

Dos suábios, sim (olha aqui, aqui ou ainda aqui.

Eu às vezes gosto de por lá passar, até porque tenho bastantes amigos que lá moram, mas nao faz o meu estilo.

Desconfio sempre quando muitas pessoas vestidas de igual que comem o mesmo e compram as mesmas coisas se acham muito alternativas ;)

Helena Araújo disse...

Eu sabia que se diz que há muitos suábios em Berlim. Mas que se estejam a criar esses movimentos anti-suábio...
Uma vergonha. Uma vergonha.
Inadmissível na capital da Alemanha no século XXI.

Por outro lado, ontem estive a falar com uma "Ossi" que parecia tirada de um livro de definições. O ódio cego aos "wessis", a maneira completamente acrítica de afirmar que agora está tudo muito pior que dantes - confesso que nem queria acreditar.
Talvez essa onda anti-suábio seja apenas um escape para exprimir os sentimentos anti-wessi.

Rita Maria disse...

Sao absolutamente ridículos, nao sao?

Acho que nao, é só um ressentimento por falta de alguns alternativos contra pessoas que, ao comprar em kit o alternativo deles, lhes mostraram que eram do mais comum que há...e que, claro, nao querem ir ser alternativos para outro lado uncool qualquer.

E, efectivamente, alguns problemas com bares e discotecas lendários, mas esses sao generalizados Berlim fora e serao sempre fruto da gentrificaçao. Gentrificaçao que, ao contrário da revolta anti-suábia, é um problema que eu compreendo.

Se as rendas nao fossem congeladas, havia agora 1 velhinha e meia no Bairro Alto. Era a mesma coisa? Nao. Era pena? Era pois. E a soluçao é conservar artificialmente o mundo como está? Também nao.

snowgaze disse...

Não digas nada, eu já acho que Munique é demasiado a norte para mim. Não me imagino com Invernos ainda menos luminosos. Munique é das cidades mais caras do mundo, os preços das casas então são uma barbaridade. Mas também me parece que aqui as pessoas acabam por ganhar mais que noutras partes da Alemanha.