08 novembro 2009

os olhos cheios de água







Há vinte anos caía o muro, e Berlim comemora.
Dizem que anda por aí um milhão de turistas, mas eu sei mais que eles: um milhão e dois, que são o nosso Giordano Bruno e a esposa. Tenho andado num stress cultural que nem queiram saber.

Ao longo da antiga linha do muro, entre a Potsdamer Platz e o lado de lá do rio, junto ao Reichstag, fizeram um dominó com mil blocos pintados. Estes foram enviados para todo o mundo, para receber as diversas interpretações deste acontecimento. Tem blocos pintados por habitantes de países ainda hoje divididos, blocos pintados por artistas, blocos pintados por miúdos das escolas primárias. Há um feito pela família do Nelson Mandela, outro feito em conjunto por crianças israelitas e palestinianas.

Já estão expostos, preparados para o grande acontecimento de amanhã: a Festa da Liberdade, Fest der Freiheit.
Por volta das 8 da noite, Lech Walesa empurrará a primeira pedra, que empurrará a seguinte, que empurrará a terceira... até à Porta de Brandemburgo. No outro extremo, Durão Barroso (melhor dizendo: o Presidente da Comissão Europeia) empurrará também uma pedra, que empurrará a seguinte... até à Porta de Brandemburgo. Um dominó democrático muito carregado de simbolismo.
Pelo meio muita música, discursos, as figuras políticas que há vinte anos tornaram este milagre possível, fogo de artifício.
(Desconfia-se até que as nuvens se abrirão para deixar passar o espírito de Reagan, mas ainda não é certo)

Lá estaremos, claro. Já estou a tirar o pó aos fatos de ski, para tentar sobreviver a umas 4 ou 5 horas de pé ao frio. O que a gente não faz só para poder ser parte do momento...

Ontem passeámos ao longo dos blocos, apreciando a criatividade e o grito de Esperança que sai de cada um deles. Lindos. Mas, mais belo ainda, era ver as pessoas que avançavam lentamente ao longo da linha de blocos: com os olhos cheios de água.

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