Faz hoje vinte anos que vim morar para a Alemanha.
Três dias depois caiu o muro de Berlim.
De modo que ando há vinte anos a dizer a gracinha que, pensando bem, nunca teve muita piada: "mas não foi por minha culpa!". Falta de visão, é o que é. Tivesse andado nas últimas duas décadas a repetir "fui eu! fui eu!", o mais provável era entretanto já toda a gente acreditar nisso (o Goebbels jurava a pés juntos que o estratagema funciona). Além disso, tendo em conta que os russos acham que foi o Gorbatchev e os americanos acham que foi o Reagan, gerou-se aqui uma espécie de terra de ninguém que bem podia ser ocupada por mim.
Em todo o caso, foi há vinte anos. Daqui a nada terei passado mais tempo da minha vida na Alemanha que em Portugal. É uma sensação estranha olhar para este antes e depois, sem saber como é que o antes teria evoluído se não tivesse havido esta - como é que dizia aquela psicóloga a propósito da mãe da Maddie? Ah, já sei: - clivagem.
Há dias uma amiga, estrangeirada como eu, perguntava-me se eu gostaria de regressar a Portugal. Não sei. Sinto falta dos amigos, do mar e de algumas comidas. Mas, em Portugal, sei que sentiria a falta de muito do que aqui constitui o meu quotidiano.
(E depois há aquela psicóloga, a da clivagem. Morro de medo de um dia a PSP desconfiar de mim e aparecer logo uma psicóloga na tv a falar das minhas clivagens.)
E assim vai a vida: portuguesa na Alemanha, "alemoa" em Portugal.
Nem sempre é fácil.
Mas tenho tido também momentos magníficos. E fiz meu aquele lema: "copo meio cheio? copo meio vazio? não importa: saboreio com gosto cada trago."
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