No concerto dos U2 em frente à Brandenburger Tor, há bocadinho. Eu sou a que tem um gorro branco. Ou, para ser mais fácil de reconhecer: sou a única pessoa que não está a fazer fotografias.
A Christina também se vê bem: é a de gorro azul. Ou, para ser mais fácil de reconhecer: a que salta mais.
O Joachim e o Matthias é que não se vêem, coitados. Como o Joachim estava de cadeira de rodas (foi operado ao joelho há 3 semanas, maldito futebol, correu tudo bem, obrigados), estavam no espaço reservado a deficientes, sob a arcada do lado esquerdo do palco. Havia mais duas pessoas em cadeira de rodas. Uma delas era uma tetraplégica fã incondicional daquela banda, que veio de propósito de Munique para os ver. Tiveram muito azar: péssimo som porque estavam por trás das colunas, e não puderam ver os efeitos de iluminação da Brandenburger Tor.
O concerto (concertinho: gratuito mas breve) foi óptimo. Gostei especialmente das projecções sobre o monumento que lhes servia de cenário. Lá pela terceira canção olhei em volta da praça: o pessoal da embaixada francesa dançava, os do banco feito pelo Frank Gehry estavam nas varandas mas ainda deviam ter a cabeça na sala de reuniões (aquele peixe enorme no meio do edifício, eu gosto de imaginar que é um tubarão e que as cadeiras dos directores estão no lugar dos dentes), dizia eu, o pessoal do banco ainda devia estar a pensar nas reuniões porque ninguém dançava, idem para os que estavam na varanda da Akademie der Künste (estariam ainda a pensar na última reunião? se calhar estavam era com receio de não conseguir encontrar o caminho de saída pelo meio daquelas escadarias suspensas lançadas para lado nenhum e mais os planos inclinados de que o edifício é feito). E os da embaixada americana? A trabalhar, coitados. O American Way of Life já não é o que era, coitados.
Já na semana passada houve uma festa semelhante. Por volta das duas da tarde um amigo do Matthias telefonou-lhe, "queres ir a um concerto gratuito do Robbie Williams?", "quero", e lá foram os dois de metro, seguidos de perto pela Christina e pelas amigas que ela conseguiu avisar.
Por estas e por outras é que gosto muito de viver em Berlim.
Pelos concertos surpresa, e por se poder ir de metro.
Ou de bicicleta vermelha, como uma famosa bloguista que eu conheço.
***
O som deste filme está péssimo, mas mostra um pormenor interessante: agora dança-se muito menos nos concertos - as pessoas estão muito quietinhas a gravar tudo.
(Parecem uns turistas que vi na catedral de Santiago de Compostela: em vez de apreenderem aquele espaço com todos os sentidos, aplicavam-se a recolher para levar para casa dentro da câmara de filmar)
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