18 setembro 2009

when I'm sixty-four

Comprámos burritos e limonadas mexicanas no Geary Boulevard, logo a seguir aos quarteirões russos, e fomos almoçar num banco do parque de Point Lobos, com vista para as Seal Rocks.
Depois passeámos ao longo do Camino del Mar. Nestas incursões pela natureza inóspita (!!!) é sempre bom ter um guia experiente, como aquele nosso amigo que, no ano em que me ocorreu nascer, já estava a apanhar boleia de um bacalhoeiro para ir passar dois anos de férias na Europa, com entrada pelos Açores dos anos sessenta. Um homem experiente, portanto.
Pacientemente, explicava como identificar poison ivy, dava nome aos pássaros que víamos, ensinava o caminho para as melhores amoras, o funcho mais tenro.
Numa curva do caminho colheu com delicadeza uma pequena flor laranja, e sugou-lhe a seiva. Depois, de olhos fechados, foi metendo a flor na boca, mastigando devagar. Na paisagem apagada de nevoeiro existia apenas aquele homem, a mancha de cor na sua boca e a evidência do prazer dos sabores.



Os Beatles eram muito novos quando escreveram aquela "when I'm sixty-four". Ah, demasiado novos, coitaditos - não percebiam nada da vida.
Começo a desconfiar que por volta dos 64 anos as pessoas estão suficientemente sábias e livres para um erotismo muito bem decantado.

(Comprei hoje o filme "Wolke 9", mas acho que vou esperar 20 anos para o ver)

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