Dá-se conta disso depois, um dia, do outro lado do mundo, porque vê uma árvore e pensa: tenho de contar.
Tenho de contar que, no Golden Gate Park em San Francisco, entre a Academy of Sciences e a estátua de Goethe e Schiller cujo original se encontra em Weimar (já alguém reparou que isto anda tudo em círculos?), há um caminho que leva directamente a uma raríssima prima das famosas redwood californiana e sequóia. Há apenas meio século descobriram nos confins da China (não me perguntem onde porque, para mim, tudo o que está para lá do aeroporto de Pequim já é confins) um pequeno bosque onde crescem estas árvores. Ao contrário das primas, esta tem folha caduca. Deram-lhe o nome de dawn redwood, há-de ter sido um biólogo com veia de poeta. Esta espécie, que existira em abundância no hemisfério norte, considerava-se extinta há eternidades. Mas não: resiste ao tempo num pequeno bosque, algures na China - e começou a invadir parques e jardins como árvore ornamental.
Aqui estão algumas fotos daquele exemplar, para poderem comparar com as árvores no jardim do vizinho.
E por falar em árvores ornamentais dos vizinhos: quando eu tinha um jardim em Weimar recebia imensos catálogos de plantas. As fotografias, na impressão barata, não eram grande coisa; os textos, em compensação, uma delícia: "deixe os seus vizinhos cheios de inveja da abundância e vivacidade dos tons das flores desta sebe"; "ninguém vai ficar indiferente à quantidade incrível de borboletas que a flor deste arbusto atrai"; "transforme o jardim da frente na maior atracção da sua rua"; etc.
Desconfio que os outros habitantes de Weimar também recebiam os catálogos e liam os textos atentamente porque, quando chegava a Primavera, os jardins explodiam num excesso de flores, aromas e cores. Uma licenciosidade biológica pela cidade inteira, um incrível bacanal ao longo das ruas.
Mas não concluam, só por eu estar a falar assim, que aquela história da inveja funciona mesmo...
Voltando a San Francisco: no Golden Gate Park haverá mais uma ou duas árvores dignas de referência, mas só me falaram desta.
(é bem verdade que é mais difícil apanhar um coxo que um ignorante botânico a armar-se que sabe fazer posts sobre árvores.)
Contudo, mesmo para os mais ignorantes, este parque merece bem um dia inteiro da estadia em San Francisco. Não apenas pela sua área mais famosa, o núcleo do de Young Museum, da Academy of Sciences e do Conservatory of Flowers. O Jardim Japonês, ali perto, é um lugar mágico. Dizem que a cerimónia do chá que fazem regularmente no pavilhão é algo muito especial - mas isso não sei. É que a frase foi dita em americano, e eu tenho alguns problemas com os adjectivos americanos.
Logo a seguir vem o Stow Lake
(nem se nota que é artificial)
(aliás: todo o parque é artificial, os lagos, a cascata, tudo; há pouco mais de 100 anos não passava de um descampado arenoso)
(de onde se tira uma conclusão: para ter um parque bonito na cidade, basta fazê-lo e esperar 100 anos, muito simples),
mais à frente encontra-se outro oásis, um moinho holandês verdadeiro rodeado por tulipas mesmo em frente ao mar.
Já fora do parque, perto do jardim japonês e do AIDS Memorial Grove, existe ainda um lugar incontornável para quem gosta disto: o Strybing Harboretum.
Bem, o melhor é planear dois dias para passear por aqui. Ou dois anos de férias.
(É que, quanto mais tempo tiverem, maior é a probabilidade de poderem assistir a uma festa no parque, ou a uma palestra num larguinho do harboretum, por exemplo uma índia a explicar como é que os seus antepassados usavam as plantas da Bay Area)
Para terminar, mais uma árvore. Esta encontra-se na encosta sul do Golden Gate.
(Para quem não sabe: Golden Gate é o estreito entre o mar e a baía, e chama-se "golden" porque era essa a entrada para a região do ouro naquela febre que lhes deu a partir de 1848)
(Outro dia conto o azar do John Sutter, em cuja terra apareceu o ouro, e que por causa disso ficou pobre)
Esta árvore foi descoberta pela Christina, que a fotografou. Assim vergastada pelo vento, na encosta por onde entram massas imponentes de nevoeiro, lembra-me o espelho de Alice.
E não me ocorrem mais parênteses.
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