08 setembro 2009

academy of sciences




Quando morávamos em San Francisco, a California Academy of Sciences era-nos um destino frequente.
Por volta dos cinco anos dos nossos filhos desenvolvemos uma sensibilidade especial para entender a imponência de um dinossauro à entrada de um museu, o fascínio de um diorama africano, e a solenidade de um mago no planetário, com a sua gravata cheia de planetas, o chapéu cónico e o misterioso manto a esvoaçar sobre o público.
O mago do planetário, que saudades. Contava sempre a mesma história, começando por pedir às crianças que pegassem numa moeda de quarter e obrigando-nos a repetir em coro que a distância da terra à lua é um quarto da distância de não sei onde a não sei quê, e depois ia fazendo variações sobre os planetas, as estrelas, o universo e nós. Num dia em que estava especialmente inspirado, contou a história de um amigo seu, um cientista cujo maior sonho era viajar no espaço, e chegou mesmo a conseguir ser escolhido para uma missão, mas na hora H ficou doente e teve de ceder o lugar a outro. Inconsolável. Bem, conhecem a história do Maomé que não vai à montanha e da montanha que vem a Maomé? Uns anos mais tarde, aquele cientista morreu no mais inacreditável acidente: foi esmagado por um meteorito. Os amigos deixaram na lua sinais dele.
Não sei se é verdadeira, mas é uma óptima história.

Afectado por vários terramotos, tal como o de Young Museum, o edifício foi fechado em 2002 e reconstruído de raiz segundo um projecto de Renzo Piano.
Em termos de arquitectura, genial.
Em termos de museu, fraquinho. Parece ser mais restaurante que museu, e é decididamente caro demais para o que oferece. A torre de quatro andares onde se faz a experiência de um mundo tropical tem uma fila interminável e, vista de fora, não parece ser melhor que a secção correspondente no oceanário de Lisboa; o diorama africano, agora que os meus filhos cresceram, parece um pouco triste.
Em compensação, o aquário é formidável, embora demasiado cheio. E na secção dos pântanos tem o que parece ser uma grande pirosice, um crocodilo branco feito de plástico ou talvez cerâmica, e que é afinal um raríssimo aligátor albino. Se não tivesse visto com estes que a terra etc., não acreditava. Ali estava ele imóvel, e nós tambem, tentando adivinhar de que material seria feito, e eis que de repente o bicho abre a bocarra e começa a espreguiçar as patas. Cuidado com um aligátor albino quando começa a esticar as patas roliças: lembra tanto um bebé, que uma pessoa até se esquece e sente o ímpeto de lhe fazer uma festinha.




O melhor de tudo é o telhado verde do edifício - a cidade rejubila com o telhado-jardim da sua Academy of Sciences, e tanto que eu não tive coragem de lhes contar que não foi o Renzo Piano quem inventou aquele tipo de cobertura para fazer ali pela primeira vez. Que se pode dizer a alguém que apareça feliz por ter inventado a roda?
Concedo: podem não ter inventado a roda, mas em termos de telhado verde inventaram algo para lá das jantes de alumínio.
Só por isso, e pela magnífica cúpula envidraçada do restaurante, vale a pena visitar a Academy of Sciences.

E se um dia lá forem, digam-me depois se no planetário ainda existe aquele mago que contava histórias deste mundo e dos outros.




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