Na semana passada assisti na Ku'damm, por mero acaso, a duas manifestações de palestinianos.
Na primeira vez parei atordoada pelos cartazes ("Gaza é uma prisão com milhão e meio de prisioneiros" e "parem de matar civis!") e pelo tom das frases que gritavam. Seria árabe, e terminava com a palavra Israel. Fazia medo.
Na segunda vez, caminhavam na minha direcção. Avançavam ladeados por centenas de polícias - um dos quais filmava discretamente os participantes.
Um ambiente tenso, onde tragédia e ódio se misturavam.
À frente do grupo vinham algumas crianças. Traziam bonecas vestidas com as cores da bandeira palestiniana, e exibiam-nas com uma mistura de orgulho e inocência.
Caminhavam lentamente, lado a lado: crianças mudas, tristes, com olhos enormes.
Continuei em direcção a casa, presa dessa enorme tristeza que me toma quase sempre que contacto com palestinianos.
Como naquele jantar, há cerca de um ano, em que me contaram cenas do dia a dia na terra deles. A enorme dificuldade em chegar ao olival do outro lado da rua, por exemplo, ou o modo como a polícia israelita os finta e desrespeita - como se não fossem seres humanos.
Um deles mostrou-me o poema que a namorada, brasileira, escrevera na semana em que ficou retida na fronteira israelita, sem autorização para entrar nem para sair do país, sem acesso a advogado, sem informações sobre quanto tempo ainda ia durar aquele purgatório, nada. Reti do poema esta frase: "Deus, me agarra!"
A meio do serão chegaram mais alguns palestinianos, e um deles, ao dar-se conta do tema da conversa, desatou a contar anedotas com ar esgazeado. Um desespero.
Passámos o resto da noite a rir de piadas velhas e mal contadas, tentando ajudá-lo a fugir para o mais longe possível de tanto horror.
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