O Matthias aproveitou o fim-de-semana com quatro dias para convidar alguns amigos de Weimar.
Preparámos com todo o cuidado um roteiro turístico e gastronómico para lhes oferecer uns dias inesquecíveis.
À primeira refeição, comecei a contar o que podemos fazer:
- uma exposição de Ferraris (inclusivamente um de Fórmula 1);
- outra na Opel da Friedrichstrasse onde se podem ver os primeiros automóveis e as experiências de evolução;
- o museu no Checkpoint Charlie (e dizia o Matthias, tentando entusiasmá-los: "com um filme sobre uma fuga num balão, e mostra os truques que eles inventavam para fugir");
- o Pergamon ("com um altar inteiro em mármore e uma rua triunfal da Babilónia", dizia eu, e falava da Prússia, e dos cientistas enviados por todo o mundo, regressando com as peças mais impressionantes para expor no centro do império);
- o Museu de História Natural, com o maior esqueleto de dinossauro que existe exposto no mundo inteiro (um braquiossauro de 13 m de altura);
- o Museu de História onde podem ver sapatos para atravessar as ruas medievais (sim, já nessa altura tinham o mesmo problema com excrementos no passeio...) ou tocar numa cota de malha para ver o peso daquilo;
- etc., tantos tantos etc.
E os rapazes? Que não, que não lhes interessa, que querem é ir jogar futebol.
Senti-me mais ou menos como um amigo meu daquela vez que ofereceu vinho do Porto a uns escoceses, e os viu a despachar o vinho directamente da garrafa pró bucho.
O Matthias foi logo buscar uma folha de papel para fazer um novo programa das festas. Plano B: reduzir o plano A ao mínimo, por muito favor fazemos a cúpula do Reichstag e damos um passeio de barco. Quanto ao mais, bolas. Literalmente.
E, ainda por cima, põem cara de cool: "Cultura?! Não temos tempo para perder com essas chatices..."
Por sorte, o menos entusiástico de todos já se vai embora no sábado à tarde. É que à noite vamos à Filarmonia de Berlim, e sei lá como é que ele se ia portar - ele, que nunca viu uma sala de concertos por dentro.
***
Não serei eu quem vai forçar estes rapazes a aproveitarem ao máximo a oportunidade de quatro dias em Berlim.
(Enfim, vou forçar um bocadinho: hoje à tarde vamos ao Pergamon. Nem que seja por dez minutos, mas hão-de ver o altar, a porta de Ishtar - seis séculos antes de Cristo; emboramente... eles vêm da Alemanha comunista, às tantas nem sabem quem foi Cristo -, o portal do mercado de Mileto, e mais duas ou três velharias egípcias e turcas.)
E depois voltam para Weimar. Mais ou menos no mesmo estado em que vieram.
Em contrapartida, o Matthias: como prémio do seu interesse ao fazer um trabalho sobre Roma antiga, ofereceram-lhe uma visita super-exclusiva a Ostia, com uma arqueóloga especialista naquela cidade. Fica-nos um bocadinho à desamão, é verdade, mas às tantas ainda se consegue dar um jeitinho.
Chegada aqui, lembro-me de uma passagem difícil do Evangelho: "àquele que tem lhe será dado, e terá em abundância; mas ao que não tem, até aquilo que tem ser-lhe-á tirado."
Começo a desconfiar que Cristo estava a falar do Conhecimento.
(Ou seja: da escola, Céu, da escola!...)
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