19 setembro 2007

procurar casa é uma autêntica aventura existencial

No decorrer do Plano A, a fase em que queríamos comprar uma casa em Berlim, andei de olho numa casa em Dahlem. Não é bonita como a de Weimar, mas tem espaço suficiente e é muito central (e os miúdos podiam ir a pé para a escola).
Avisaram-me que está demasiado perto de uma rua muito movimentada.
Ora bem: quem compraria a terceira casa de uma perpendicular à avenida da Liberdade de Lisboa, mesmo se fosse bonitinha como esta (sem o Pai Natal, claro)?



Não sei porque é que pergunto isto num blogue em português. É nestes casos que percebo mais claramente que já Helena não sou, etc. - habituei-me demasiado aos critérios alemães.
Já não consigo entender a lógica de uma amiga nossa, portuguesa, que uma vez nos mostrou o seu andar junto a um nó de várias auto-estradas, e comentou, toda orgulhosa: "olhem para isto, que boas acessibilidades!"
Nem entendo outra amiga, que, na altura em que andávamos a pensar ir morar em Portugal, insistia que devíamos comprar um andar numa torre com vista para o mar. A vista para o mar, é como diz o outro, mas comprar um andar numa torre?! Ela argumentava: é muito mais seguro que uma casa com jardim.
Pois é, tinha-me esquecido desse pormenor.

***

Ontem passei o dia em Berlim a visitar apartamentos.

Fiquei toda contente com o primeiro que vi, com dois andares e galeria, numa transversal da Ku'Damm. Bonito, grande, preço suportável. Pensei que já está bom que chegue, e só pode melhorar.

Ao longo do dia fui visitando mais algumas casas, desde uma casa num sítio idílico (foto seguinte), mas com 40 semáforos entre essa rua e o centro, até um apartamento labiríntico num 4º e 5º andar sem elevador - quem estará disposto a alugar aquele disparate?




A última que vi era um apartamento super-chique num prédio super-chique numa zona super-chique. Nem tenho palavras para explicar, ó pra mim, muuuh, muuuh, a tentar entender um palácio. Para quem conhece Berlim: na Hewaldstrasse, mesmo ao lado do Volkspark (um parque que se estende por vários km, com os seus relvados e os seus lagos, no coração da cidade).
É um apartamento de 280 m², com uma sucessão de quatro salas enormes, duas delas com lareira, e mais os tectos de estuque, as janelas descomunais e o jardim de inverno, e dividido por dois andares, com terraço no telhado e uma boa vista para a cidade.

Por um lado, é estranho ser apenas um pouco mais caro do que o tal primeiro apartamento que vi, embora lhe esteja a anos-luz de distância.
Por outro lado, dei comigo a perguntar-me se quero mesmo ir morar nesse ambiente tão cheio de superlativos.
É que vi uma das vizinhas com o seu neto, ambos vestidos com ar de quem vem de fazer fotografias para a Burberry no parque. Comparada com aquilo, vou ter sempre ar de esta-entrou-pela-porta-de-serviço. E os nossos móveis, coitadinhos, perdidos naqueles salões...
De modo que passeei pelo apartamento, fascinada com o ambiente, mas a pensar: "eu sou isto? eu sou assim?"

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