Plano B: já não vamos comprar a correr uma casa em Berlim, vamos alugar uma casa ou um apartamento e procurar depois com calma. E se já não é para comprar, não sei o que estou a fazer ainda em Weimar, com o Joachim em Berlim e os filhos insuportáveis de saudades e expectativa.
Passei a manhã a telefonar para Berlim, para tentar arranjar um apartamento.
Ora bem: eu compreendo que os gajos desconfiem - falam com uma mulher com sotaque de estrangeira e um nome impossível de pronunciar, que quer um apartamento com uns 250 m² e umas 8 divisões. Desconfiam, perguntam-me se tenho emprego e para que preciso de tanto espaço (porque sou muito gorda, caramba, nós os estrangeiros não-integrados que vivem à custa do sistema social alemão engordamos muito).
Mas depois de tantas perguntas, e de um me ter desligado o telefone na cara, uma pessoa fica a pensar que mais vale nascer rica, branca, saudável e feliz, e já agora com um sotaque alemão perfeito.
Claro que posso sempre começar a conversa por "estou à procura de casa para o director de uma empresa americana, posso falar inglês ou prefere que falemos em alemão?"
Para os meus problemas sei eu a solução.
Só fico a pensar: e se eu fosse mesmo uma estrangeira desempregada a viver da segurança social, e precisasse de um apartamento? Como é que essas pessoas conseguirão digerir as humilhações quotidianas, a desconfiança permanente no olhar dos outros, as perguntas tão reveladoras dos preconceitos?
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Por falar em mocassins alheios: uma amiga minha, que tem uma filha com síndroma de Down (na verdade, tem duas, porque adoptou mais uma), contou-me que no infantário um miúdo limpou a mão à roupa depois de ter tocado na pequenina. A educadora mandou todos os miúdos tocar nesse rapazinho e ir a correr lavar as mãos.
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