A Baviera está em festa: o Papa "deles" voltou à terrinha, e muito bem, que está escrito na cartilha do emigrante o inalienável direito de regressar à pátria para matar saudades.
Excepto na cartilha do emigrante palestiniano, mas adiante, que não é disso que ia falar hoje.
A Baviera está em festa. O Papa tem andado feliz. O resto da Alemanha assiste (tem-se vendido muito Paracetamol para a dor de cotovelo).
São bons tempos para o país: o mundial de futebol correu muito bem, e o Papa é alemão e está-se a revelar bem mais simpático do que se pensava. Não tarda nada, a economia começa a dar sinais de ressurreição (sim, eu sei: wishful thinking. Até pareço um primeiro ministro a fazer discurso eleitoral).
Parece-me que a combinação do mundial, do Papa alemão e, convenhamos, do distanciamento histórico está a fazer com que os alemães comecem a perder aquela espécie de vergonha de serem alemães. Já não era sem tempo!
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Assisti à missa de domingo em Munique. Pensei bastante no comentário feito por um amigo berlinense logo após a escolha do cardeal Ratzinger para Papa: "Eu estou satisfeito. Este é um alemão da geração dos meus pais, uma pessoa que eu posso entender, alguém que fala, mais que a minha língua, a minha linguagem".
A homilia ofereceu-me a resposta a algumas das minhas perguntas, com palavras que são também minhas.
Gostei especialmente da passagem em que lembrava que a Fé é um espaço de liberdade e não de constrangimento. Neste tempo em que se assiste a um endurecimento de posições religiosas, é muito positivo que o Papa chame a atenção para a liberdade e para o lugar de Deus na nossa vida: simultaneamente contexto e meta dos cristãos.
E - não disse ele, mas digo eu - se a meta é um Deus que não se confunde com a letra da Lei, então não há lugar para fundamentalismos, porque tudo se resume à pergunta feita em Auschwitz: "onde estás, Deus?"
Em suma: estou, como muitos alemães, cada vez mais reconciliada com esta escolha. Diria que "este é dos nossos", não em termos de clubismo mas de sentido de comunhão.
Contudo, tanta harmonia deixa-me desconfiada: que se passará comigo, ou que se passará com o Bento XVI, se as palavras dele nem me chocam nem me desinstalam?
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