A ideia não é nova: a espada ou o arado.
Desmond Tutu retoma-a, num artigo no Independent:
The world could eradicate poverty in a few generations were only a fraction of the expenditure on the war business to be spent on peace. An average of $22bn is spent on arms by countries in Asia, the Middle East, Latin America and Africa every year, according to estimates for the US Congress. This sum would have enabled those countries to put every child in school and to reduce child mortality by two-thirds by 2015, fulfilling two of the Millennium Development Goals.
Antes de começar a guerra do Iraque, um político conservador alemão, Jürgen Todenhöfer, escreveu o livro "Wer weint schon um Abdul und Tanaya?" (algo como: "alguém chora por Abdul und Tanaya?"), um manifesto contra a guerra ao terrorismo. Uma das suas afirmações: o Afeganistão precisa muito mais de máquinas que de bombas.
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Ora bem: o problema de andar há mais de dois anos nesta vida de bloganço, é que uma pessoa se começa a repetir - e cá vou eu de novo: no contexto de ameaça terrorista global, quais são os nossos critérios para escolher entre a espada e o arado?
Agora, que o Afeganistão se tornou um impasse cada vez mais perigoso, o Iraque está a ser empurrado para a guerra civil, e o Irão está a ser encurralado numa lógica bélica, esta pergunta torna-se cada vez mais urgente:
Para além de manter saudável a indústria de armamento ("a Paz provoca desemprego"), quais são as vantagens de uma guerra?
Não seria mais lógico fazer acordos bilaterais de desarmamento e de cooperação económica?
"E se eles não quiserem?", perguntarão.
"E por é que eles não hão-de querer?", respondo eu.
Desculpem a ingenuidade: no caso particular do Irão, continuo sem saber porque é que o Ahmadinejad não pode ter a bomba atómica, e o Bush, que se fartou de mentir deliberadamente para poder fazer uma guerra que já causou centenas de milhares de mortos (alguém terá a delicadeza de os contar?), pode. Entendamo-nos: não me dá jeito nenhum que o Irão tenha a bomba; o que não sei é como lhes explicar porquê.
E desculpem o maquiavelismo: nada como a fartura para embotar raivas. De barriga cheia, e com empregozinho das nove às seis, ninguém tem muita vontade de se tornar suicida bombista. Ninguém, vírgula: ainda tenho de ir pesquisar sobre o horário de trabalho dos terroristas ingleses. E tentar perceber o que passou pela cabeça daquele rapazinho de um bairro rico da Bay Area, que em finais dos anos 90 abandonou a família e foi para o Afeganistão fazer de taliban.
Em todo o caso, hoje estou muito Deu-la-deu Martins: há que procurar caminhos novos. Há que perceber, antes de mais, que "terrorismo" é um nome demasiado vago para um fenómeno polimórfico. Cada caso é um caso (o que há de comum entre um atentado bombista no Bali e um suicida palestiniano?). Nesta guerra, o inimigo é invisível - uma "guerra ao terrorismo" é um braço de ferro com o Barbapapa.
Além disso, convém não esquecer, a "guerra ao terrorismo" tem sido um pretexto para cumprir a agenda dos neo-conservadores americanos.
Só por uns instantes acreditei que a resposta adequada ao terrorismo pudesse ser a guerra - mas tenho factores atenuantes: foi antes de começar o ataque ao Afeganistão, num tempo em que eu ainda consumia televisão e jornais americanos de má qualidade e morria de medo ao ver alguém com um saco de desporto.
O impulso das primeiras horas do 11 de setembro, que me ditava que a resposta ao terrorismo só pode ser a luta por um mundo mais justo, deu lugar a uma perspectiva mais ampla:
Não reduzamos a Justiça a uma mera reacção a um mal. Ela não é uma resposta, mas um princípio.
O trabalho por um mundo mais justo não pode depender da pressão do terrorismo. E também não se deve deixar abalar pelos que afirmam que o que move os pobres deste mundo não é a sede de Justiça mas a vontade de ter um SUV.
Um trabalho que não é fácil, como lembra a história contada por um judeu a propósito da dificuldade em encontrar uma solução para a Palestina e Israel que ambos os povos considerem justa. Vai para um post novo, porque duvido que alguém tenha tido a pachorra para ler este até ao fim...
Dirão: a Justiça, sim senhora, muito bonito. Mas e então, o terrorismo?
Já está bastante claro que este nosso novo inimigo
(digamos assim, embora não saiba do que estou a falar - felizmente temos os think tanks neo-conservadores para nos traçarem um retrato robot que dará para os gastos)
ainda é mais resilient que o Churchill. We shall never surrender, dizem, e na língua deles soa ainda mais definitivo que em inglês.
Se não vamos lá com bombas, que tal tentarmos perceber os mecanismos que, do lado de lá e do lado de cá, conduzem a uma guerra, e agir a esse nível?
Nem que isso passe por trocar os campos de ópio do Afeganistão por máquinas de costura e acordos comerciais. Por exemplo.
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