15 setembro 2006

a Justiça

Numa pequena shtetl da Roménia havia um rabino muito crédulo, a quem contaram que um mercador da cidade vizinha estava a vender Justiça.
"Justiça", pensou o rabino, "que bom seria termos Justiça na nossa shtetl!"
Juntou todas as suas poupanças, pediu aos amigos que lhe emprestassem mais algum dinheiro, e pôs-se a caminho da cidade.
O mercador não tinha nada de parvo, e ainda menos de escrupuloso. Quando o rabino lhe disse que queria comprar alguma Justiça, respondeu "muito bem, muito bem, espere um momento". Desceu à cave, arranjou um odre, encheu-o com líquido da fossa e fechou-o bem. Depois, embrulhou o odre num pano ricamente ornamentado, e vendeu-o ao rabino a preço de ouro, recomendando-lhe que o guardasse com cuidado e que não o abrisse.
O rabino voltou todo contente para casa, e escondeu o odre debaixo da cama.
Durante a noite, a satisfação não o deixava adormecer. A satisfação, e a curiosidade.
"Como será a Justiça?", interrogava-se, e dava mais uma volta na cama.
"Quem me dera saber!", acrescentava, e virava-se de novo.
De madrugada, não conseguiu resistir mais à tentação. Levantou-se, pegou no odre, abriu-o e espreitou para dentro.
No dia seguinte, reuniu as pessoas mais importantes da comunidade, e anunciou-lhes alegremente:
"Tenho uma grande novidade para a nossa shtetl: já temos Justiça!"
Um enorme "aaaaahhhh" ecoou pela sala. Alguém perguntou: "E como é ela?"
O rabino respirou fundo, e revelou em voz baixa:
"A Justiça fede."

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