03 julho 2006
viver em LA
O meu caminho para a casa nova estava cortado por uma equipa de filmagem, que se instalou na ponte em frente ao palácio ducal para filmar uma cena da ponte para o parque.
(O parque, mandado fazer por Goethe à maneira dos ingleses, é no centro da cidade e de tal modo grande que se diz que Weimar é um parque onde fizeram uma cidade.)
Pediram-me para esperar um bocadinho, e
"Ena", pensei eu, "isto até parece Los Angeles! Não se pode ir a lado nenhum, que não se dê com uma equipa de filmagem."
Daí a nada chegou um grupo de senhoras idosas (os reformados adoram Weimar - a idade média aqui deve ser de, pelo menos, 98 anos...), que começaram a fazer perguntas sobre o filme.
- Chama-se "um dia banal", e é sobre a morte, respondeu um dos ajudantes.
- Ai, é sobre a morte?, disse uma das velhinhas. Quando vem para as salas de cinema? Esse tema interessa-me muito!
A mim também, mas não tem urgência.
Consola-me saber que, até agora, todos conseguiram. Não hei-de ser mais incapaz que os outros.
***
Vamos mudar no dia 10.
A nossa nova rua é assim:
O bairro onde ainda moramos não é muito diferente. De facto, Weimar tem vários bairros deste género, entremeados por parques enormes, e um centro de trânsito muito condicionado. De modo que, ao ler este post do Miguel Vale de Almeida, compreendi inteiramente o que diz sobre o caos urbanístico.
E direi mesmo mais: no ano passado fui de Weimar directamente para Lisboa, e foi um choque terrível - carros em cima dos passeios, imensa lata, excesso de construção, quase nenhum espaço verde. Como é que as pessoas conseguem viver nessas condições?
Bem sei que é incorrecto comparar uma cidade de 60.000 habitantes com uma metrópole como Lisboa. A questão, contudo, mantém-se: como é possível viver numa cidade assim?
E as cidades portuguesas de 60.000 habitantes: o que é que correu tão mal, para que as cidades pequenas copiem os erros das grandes? Quem é responsável por esse excesso de prédios e pela ausência de espaços verdes em cidades onde a malha urbana podia ser bem mais solta?
Ou será que o pessoal gosta de viver em volières?!
E depois, cúmulo da ironia, os acabamentos de luxo: casas de banho com 6 m², revestidas a mármore. Corredores com 1 m de largura, forrados a azulejos conventuais.
"Ena", penso eu, "isto até parece Los Angeles: é só fachada."
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