30 junho 2006

um olhar brasileiro

O da Laura, que começou a andar nesta vida bloguística no princípio da adolescência, e já cá anda há mais de quatro anos.
Como ela não tem link para os textos antigos, recupero eu um dos poucos que gravei:

De quem é a lã?

Estava em pé no metrô, situação São Paulo de sempre: pessoas desconfiadas, absolutamente sérias e olhando feio umas para as outras, quando um homem, também de pé, ergue na mão um novelo de lã, perguntando em voz alta e como se essa fosse a frase mais comum do universo: "de quem é a lã?".
A mobilização foi geral, o homem com a lã, de costas para a porta, o homem de frente para ele e a meu lado, as pessoas sentadas de frente para mim, todos procurando de onde havia rolado o novelo. Nada mais óbvio, "é só seguir a linha!", disse eu. O homem sentado à minha frente tinha a linha verde pela frente de seu pé esquerdo, a moça a seu lado viu a linha passada pelo seu outro pé, e também a terceira senhora, sentada de frente para o perfil dos dois, e conseqüentemente a meu lado esquerdo. De costas para a mobilização, uma velhinha que tricotava com a linha verde voltou-se, um pouco atrapalhada, para ver o que ocorrera. Logo abaixo dela, no chão, a sacola aberta - escancarada - de onde rolara o novelo. Aí sim, quando o problema parecia resolvido, começou a parte mais difícil. O homem de pé agachou-se e desviou a linha da barra de ferro, passando-a, próxima ao chão, ao homem sentado, que a passou, por trás de seu pé direito, para a mulher a seu lado. Atrapalhada por estar sentada, ela demorou um pouco mais com a linha, que se enroscara em suas duas pernas, passando pelos saltos de suas botas. Ao seu lado, a mulher sentada de costas para a velhinha já aguardava sua vez de pegar o novelo, que ainda teve que ser desviado de outra barra de ferro antes de voltar para a sacola.
Ao fim, como se aquilo não fosse mais um metrô, como se não mais fosse São Paulo, os envolvidos pelo trajeto olharam-se e sorriram.

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Quem quiser ler mais, tente surfar a partir daqui.

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