Acabei de ser entrevistada por um jornal regional, na qualidade de única portuguesa de Weimar (ao que consta), para mandar umas bocas sobre o mundial de futebol. Eu sabia que mais cedo ou mais tarde seria inevitável, e foi agora.
A jornalista, que me conhece de outros carnavais, começou logo por se pôr do meu lado, dizendo que a sua equipa favorita é a portuguesa, porque os portugueses cozinham tão bem (isto sim, é um critério futebolístico), e eu só por causa disso prometi-lhe logo uns bolinhos de bacalhau, da próxima vez que ousar essa empreitada. Parece-me que percebo agora melhor os tais valores propriamente femininos da Associação Mulheres em Acção, referidos pelo Miguel Silva.
- E então, que me diz sobre o próximo jogo de Portugal?
- Eu acho que bem podem mandar a equipa portuguesa para casa e deixar ficar só o guarda-redes, que ele sozinho dá conta do recado.
- E além do guarda-redes, qual é o seu jogador português preferido?
- hummmm
(e a toda a pressa pensava: eu gosto do Cristiano Ronaldo e do Deco, dos outros não sei quase nada, o Figo, enfim, já foi mais bonito mas a idade não perdoa a ninguém, e além disso fez um passe bom no primeiro jogo mas desde então raramente o vi, por isso é melhor não dizer nada, e o Deco não é bem português, quer dizer, se nos blogues portugueses se andam a rir dos jogadores alemães que são polacos eu é melhor fazer de conta que não sei nada sobre o Deco, e o Cristiano Ronaldo, aimêdês, o rapaz joga bem mas é muito instável, tem os nervos à flor da pele, aposto que lhe pedem para mostrar um cartão de identidade qualquer antes de o deixarem entrar em campo porque com aquele ar de desequilíbrio afectivo ainda se teme que seja vítima de trabalho infantil e é escusado andar a falar destas misérias nacionais, por isso o melhor é calar-me e não falar do Cristiano Ronaldo, aimêdês, além disso, isto é só palha para encher um jornal regional, eles não estão à espera que saia daqui uma grande tirada filosófica, e convinha fazer-lhes um gostinho ao orgulho nacional, afinal de contas é boa educação ser simpática na minha qualidade de convidada, e como é que respondo agora?)
e disse:
- O meu jogador português preferido? Se o Ballack fosse português...
Alea jacta est.
A ver vamos como é que a jornalista vai traduzir para papel as reticências e os risos.
Por sorte, este jornal não é o Expresso, que gosta de ignorar o tom irónico para fazer notícias sérias.
Ai, já me ia esquecendo: ...
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