Ontem de manhã fui à ginecologista para uma consulta de rotina. O consultório tem um ambiente muito cuidado, com móveis caros e obras de arte nas paredes, mas as assistentes irritam-me sempre, porque atendem as pessoas de forma mecânica, antipática e arrogante, dão ordens secas, não fazem um único sorriso. Fazem-nos sentir como se tivéssemos ousado entrar numa Chanel ou numa Valentino (as lojas ali ao lado) sem termos cara de jovem esposa de um oligarca russo.
Enquanto esperava, liguei para um otorrino na parte Oxfam da mesma rua (é a avenida Ku'damm, há muita diversidade ao longo dos seus 3,5 km) para saber de uma vacina covid, fui atendida de forma extremamente simpática, e disseram-me para aparecer a meio da tarde, mesmo sem marcação.
O consultório tinha paredes vazias, cadeiras sólidas e sem graça, alguns brinquedos. E duas senhoras extremamente simpáticas na recepção. Uma delas usava hijab. A terceira, que veio falar comigo para me explicar que sou uma velhinha muito jovem e portanto devia tomar a vacina mais leve da gripe, era ainda mais simpática e calorosa que as da recepção.
Não resisti a fazer um comentário:
- Há algo neste consultório que o torna muito diferente dos outros...
- É por termos muitas crianças?
- Bem, estava a pensar na maneira calorosa como tratam as pessoas.
Ela sorriu.
Daí a pouco chegou o médico. Vacinou-me, falou um pouco, contei-lhe que este mês não posso apanhar gripe nem covid porque está a decorrer o Portuguese Cinema Days in Berlin, ele explicou que estas vacinas não me livram de apanhar as doenças, mas limitam os estragos, e depois quis saber mais sobre a nossa mostra de cinema. Dei-lhe um flyer, ele folheou, chamou a mulher (era a terceira senhora que me tinha atendido), pediram-me recomendações dos filmes, e saí de lá feliz da vida a pensar:
- Será que também fazem ginecologia?
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