Há muitos anos um amigo pediu-me para ir a tribunal depor a favor dele num caso complicado de ele ter comprado uma casa que descobriu num anúncio do proprietário, e um agente imobiliário querer receber a sua parte. O tribunal precisava de averiguar quando é que ele tinha regressado depois de umas determinadas férias. O meu amigo até me tinha refrescado a memória mas eu, despistada, fui para o tribunal como quem vai ver a bola.
- Frau Araújo, quando é que o Herr X voltou das férias?
- Hmmmmm, não tenho bem a certeza, mas deve ter sido em princípios de Setembro.
- Não foi em meados de Agosto?
- Não, isso não foi de certeza!
- Como é que o pode afirmar com tanta confiança?
- É que ele foi de férias e deixou-me a tratar da rega das plantas da casa dele. A última vez que lá fui, foi com a minha cunhada que estava aqui de férias, na véspera do seu regresso a Portugal, que foi em meados de Agosto. E depois desmazelei-me, nunca mais lá fui regar, e andava cheia de má consciência.
O juíz repetiu o que eu disse para o seu gravador portátil: "a testemunha foi regar em meados de Agosto e depois desmazelou-se e andava cheia de má consciência".
O advogado do meu amigo ficou todo contente com o meu depoimento, porque parecia muito genuíno e nada ensaiado. Uns dias depois, o meu amigo disse, com um sorriso, que não sabia o que fazer: se convidar-me para um jantar por tê-lo ajudado a ganhar o processo, ou mandar-me a conta das plantas mortas.
(Um dia que queiram ganhar processos em tribunal, já sabem: encarreguem-me a mim de meter água.)
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