12 setembro 2023

se não sabiam, ficam a saber

 

Agora que o Rubiales se foi (vá pela sombra, que...), regresso ao filme (aqui).

Vi-o várias vezes, e é isto que lá vejo:

Hermoso avança para Rubiales e estende-lhe a mão. Ele recusa cumprimentá-la assim, em vez disso agarra-se a ela num abraço e a seguir salta-lhe para cima. Ela dobra os joelhos para ele voltar ao chão, quer soltar-se, mas ele agarra-lhe na cabeça e pespega-lhe um beijo na boca.

Como interpretar as pancadas laterais que ela lhe dá a seguir? Não sei como é com os leitores deste blogue, mas não me lembro de alguma vez ter batido assim em alguém depois de trocarmos um beijo na boca consentido.

Note-se ainda o gesto de Hermoso ao avançar para a mulher ao lado: levanta o braço direito, para se abraçarem, em vez de ir com a mão baixa, como fizera com Rubiales, para um mero aperto de mão. Depois de abraçar a mulher, avança para os homens seguintes de novo com o braço baixo, para um aperto de mão. A sua linguagem corporal mostra claramente se quer abraçar ou apenas um aperto de mão.


Sim, depois disso elas riram-se no autocarro e estavam na galhofa com ele. Mas:

-Tinham acabado de vencer o mundial, tinham a adrenalina a mil, e provavelmente ninguém queria estragar a alegria daquele momento.

- Nós, mulheres, temos em cima do lombo milénios a sermos educadas para não levantar ondas, não incomodar os homens, não fazermos cenas que ponham os homens numa posição embaraçosa. Aquela selecção tem um longo historial de abuso de poder por parte dos homens, e de humilhações engolidas em seco para conseguirem atingir o objectivo delas, que é jogar futebol (repararam bem nesta frase? peço um minuto de silêncio pelo caminho de martírio que obrigaram estas mulheres a percorrer para poderem chegar a campeãs do mundo). Em nome de quê exigimos daquela jogadora, para mais no auge da festa, que ao ser vítima de (mais um) abuso tenha a presença de espírito para dar um empurrão ou um estaladão ao homem, em frente às câmaras de tv do mundo inteiro?


Finalmente: estamos de tal maneira condicionados para ver conspirações e manipulações em tudo, que já não conseguimos ver as coisas simplesmente como elas são. No caso, há dois factos incontornáveis:

- ela ia estender-lhe a mão, e ele forçou mais contacto físico;

- um superior não pode, em momento algum, forçar contacto físico com uma pessoa que lhe está subordinada. Se não sabiam até hoje, depois da demissão do Rubiales ficam a saber.


7 comentários:

CCF disse...

100% de acordo...e que bem escrito está!
~CC~

Helena Araújo disse...

Obrigada. :)

José Rodrigues disse...

muito lindo, muito bem escrito, sim senhora e quanto à verdade?
Há quem pense de outra forma e também não deixa de ser verdade:
https://blasfemias.net/2023/09/26/o-beijo-2/

Helena Araújo disse...

José Rodrigues, se o texto que partilhou é "a verdade", eu vou ali ver se a terra é plana e já volto.

José Rodrigues disse...

Não, Helena Araújo, a terra não é plana, acredite. Isso pelo menos está perfeitamente comprovado.

Já neste assunto há muita coisa que não está comprovada. Mas é mais fácil acreditar-se nas "verdades" e nos "factos" que surgem nas redes sociais, nas campanhas políticas, nos media com agenda própria. É sempre mais cómodo cruzarmos os braços e reproduzir o que a maioria escreve e outra maioria espera ler.
Estamos cada vez mais reféns do politicamente correto, das ideias preconcebidas, dos julgamentos pré-fabricados e feitos em praça pública.
Eu gosto mais de pensar com a minha cabeça e até se provar o contrário prefiro admitir que alguém é inocente, seja ele homem, mulher ou corresponda a qualquer outra definição de género.

Helena Araújo disse...

José Rodrigues, viu o filme? Viu que ela o queria cumprimentar com um aperto de mão? Como é que, tendo visto o filme, é capaz de acreditar que daí a poucos segundos ela estava a consentir que ele a beijasse na boca?

Vá, tente pôr de lado a agenda ideológica que o está a cegar, e tente ver com olhos de ver o que ali se passou.

Já agora: também tomou conhecimento do desabafo dela, pouco depois: "que é que eu havia de fazer?"
Acha que isso é sinal de consentimento? Ou acha que, poucos momentos depois, ela já estava a ser manipulada pelo wokismo das redes sociais?

José Rodrigues disse...

Sim, vi o filme. Até vi mais que um, btw.
Já percebi que tem o seu julgamento encerrado e a sentença determinada.
Espero sinceramente que nunca lhe aconteça nada semelhante.

Foi um prazer... confirmar o que eu esperava.