18 agosto 2023

os feriados religiosos e o Estado laico

 

(continuação do post anterior, para uma nota à margem)

No âmbito da discussão sobre o apoio que o Estado laico deve dar à Igreja Católica, houve quem se lembrasse de falar dos feriados religiosos, tentando com esse argumento encurralar o adversário. 

A essas pessoas, sugiro que pensem um bocadinho melhor nos argumentos que usam. Porque o debate pode correr mal para o lado delas:

- Ah, com que então, o Estado é muito laico para umas coisas, mas ninguém lhe pede para acabar com os feriados religiosos como o 15 de Agosto, não é? Ah, pois! Só são laicos para o que vos dá jeito...

- Ninguém pediu até agora, mas, pensando bem, está a dar uma excelente ideia: podia-se trocar os feriados religiosos por outros de importante valor simbólico para a sociedade como um todo (o 15 de Agosto pelo 8 de Março, dia internacional da mulher, por exemplo); e manter certos feriados, mudando-lhes o nome (o "Natal" passava a ser a "Festa das Famílias"). E, para os católicos praticantes, podia haver tolerância de ponto no emprego para os feriados religiosos desaparecidos do calendário (Assunção, Corpo de Deus, etc.), desde que trouxessem um comprovativo assinado pelo padre da sua paróquia, garantindo que no ano anterior foi membro permanente e activo da comunidade paroquial. Ou seja: a religião apenas a quem a trabalha...

Claro que não defendo estas mudanças, pelo menos não nas próximas décadas. Só falei delas porque me incomodam certos argumentos atirados como cheque-mate da retórica, com o único objectivo de encurralar o adversário. Gostava de assistir a um nível mais elevado nos debates, feitos de respeito mútuo, e de vontade de ouvir e de entender.