17 maio 2023

raixparta a natureza!

 

Acabei de ver uma gralha enorme com uma das minhas abelhinhas no bico. A impertinente usa a entrada da colmeia como buffet. Põe-se ali a vê-las passar (até me lembra aqueles restaurantes com canoas de sushi) e às tantas: "apetece-me esta!"

Minha rica abelha!

Odeio gralhas. Pior: tenho-lhes respeitinho. Porque já vi uma a provocar o Fox, quando este ia pelo parque fora, muito descansado da vida, a tratar dos seus assuntos quotidianos. A gralha saltitava atrás dele, e de repente tomava lanço, dava-lhe uma bicada por trás e saía a voar (e a rir-se, imagino). Uma e outra e outra vez. E também porque uma amiga me contou que uma vez espantou uma gralha para fora da sua varanda, e depois disso nunca mais lá pôde ter vasos com plantas. Sempre que tentava, a gralha regressava para deitar as plantas e a terra ao chão. E ainda por causa de uma outra gralha, que foi chamar as amigas para se vingar de um rapaz que a tinha enxotado. De repente, ele viu-se confrontado com um bando de gralhas com ar de rufias, que o fitavam desafiadoramente.

Portanto: gralhas, quero é distância delas. Mas uma das minhas vizinhas gosta de as ver no jardim, e por isso dá-lhes comida. A horas certas, porque é alemã. Chega àquela hora, junta-se ali um par de gralhas, e ela sorri muito feliz. "Uns bichos muito inteligentes", comentou outro vizinho, ao ver a cena. Trabalha no aeroporto, e diz que as gralhas de Schönefeld aprenderam a pousar os frutos de casca dura na pista de descolagem. Depois é só esperar que passe um avião, e já têm o almoço pronto a comer.

Esta vizinha das gralhas é a que há tempos me mandou um link para um artigo onde se dizia que demasiadas abelhas num local podem espantar os outros insectos. Mandou o link, e a frase "olha que interessante, isto que descobri - também reparaste que ultimamente não se vêem besouros por aqui?"

Tinha razão: eu também não via besouros desde há muito. Nem besouros, nem nenhum outro insecto, porque ainda estávamos no inverno. Mas fiquei preocupada. De modo que quando vi um par de besouros de volta de umas ervas daninhas em flor, nunca mais toquei nessas plantas e fui logo avisar a vizinha que afinal ainda temos besouros na rua. Ela entretanto já tinha percebido que se calhar não tinha sido simpático enviar-me aquela mensagem naqueles termos, e fez-me uma festinha no braço para pedir desculpa.

E agora sou eu que estou com zanga às gralhas dela. Mas sei por experiência própria que é mais avisado ficar caladinha.

Em todo o caso: raixparta a natureza! Não podia ter inventado gralhas vegan?!


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