Aproveitámos os dois feriados à volta do domingo de Páscoa para visitar amigos num pequeno paraíso ali para os lados do mar Báltico. A Dinamarca: aqui tão perto, mas por vários motivos fora das nossas rotas habituais (a Polónia é outro caso, ainda mais flagrante: começa a 80 km de Berlim, mas nunca lá vamos).
Como ia dizendo: agarrámos no Fox, metemos as tralhas na carripaninha, e abalámos em direcção ao Pólo Norte. Perto de Fredericia, virámos à direita e atravessámos uma ponte que liga o continente à Fiónia. Uns dias depois, teriam a delicadeza de me informar que na Dinamarca não há rios. Ou seja (concluí eu): quando se atravessa uma ponte sobre a água, é provável que se esteja a chegar a uma ilha. No nosso caminho havia duas pontes, o que me fez sentir que saltitámos de ilha em ilha, passe o exagero, até chegar ao destino.
E que destino!
Começo pelo mais importante para os leitores deste blogue: o Fox adorou. E não era motivo para menos.
Nós também tivemos dias especiais com aquelas pessoas, aquelas conversas, aquelas paisagens.
Além disso, milagre dos milagres: na Dinamarca, não é preciso falar dinamarquês. Todos falam português. A sério! Pelo menos os dinamarqueses que lá encontrámos, falavam. Quase todos.
Só uma coisa me deixou perplexa: do livro O Cavaleiro da Dinamarca, da Sophia, só me lembro das florestas cobertas de neve com abetos verdes. Ando há 50 anos a pensar que a Dinamarca é uma imensa floresta. E não é, não foi isso o que vi. Regressei ao livro, para tentar entender onde nascera essa minha impressão, e correu mal: logo no primeiro parágrafo, fala nos rios gelados da Dinamarca. Ooops...
(E agora, senhores editores? Nas próximas edições: omitem as referências aos rios, acrescentam uma errata ou nota de pé de página, ou continuam a enganar as criancinhas?) (Ou então: trocam o nome do livro, fica O Cavaleiro da Suíça, e pronto.) (Ai! O Carmo e a Trindade a virem abaixo em três... dois... um...)
ADENDA: Um leitor atento rebateu a teoria de não haver rios na Dinamarca. Parece que há - e a wikipedia até tem uma lista de rios dinamarqueses. Afinal, a culpa é - como de costume - do tradutor. Na Dinamarca, ninguém chama "rio" aos cursos de água que lá há. "Rio" é palavra que só aplicam para dimensões maiores. Como o rio Reno. Mas fui ver fotografias do Gudenå - e é bem maior que muitos rios portugueses.
Em suma: desarrisquem aquela história das pontes, é fake news. E podem deixar o Cavaleiro da Dinamarca como está, que escrito em português está muito bem. Só é preciso ter cuidado com a tradução para dinamarquês.
5 comentários:
Demorei algum tempo a aperceber-me que os rios, sendo uma espécie de transformação de superfícies em linhas mais ou menos sinuosas, concentram boa parte da água que cai em áreas enormes enquanto nas pequenas ilhas como a Zelândia onde está Copenhaga, essas grandes áreas não existem.
Mas consultando "https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_rivers_of_Denmark" verá que enquanto na Zelândia apenas existem golfos e 2 lagos donde correrão uns regatos para o mar e na Fyn (Fionia em português) existe o rio Odense, que passa pela capital da ilha, na Jutlândia existem muitos rios em que o maior, o Skjern Å, até tem direito a foto em que além de meandros se vê uma ponte que presumo não ser única pois o rio tem 104,1km de comprimento. Acho graça ao ",1". De resto a Dinamarca é a terra das coisas lindas.
Fui perguntar a um dos meus amigos, que respondeu isto:
"Bom, não há nada a que se chame flod, rio, só å, ribeira, mas tudo depende de como se defina rio. Não sei se é por caudal, comprimento, estrutura de afluentes... Se fores ver a página wiki destes "rivers", são descritos como vandløb, cursos de água. Quando falas com um dianamarquês, eles dizem sempre que não têm rios."
Por outro lado...
Fui ver imagens do maior deles, o Gudenå, e tenho de reconhecer que dá 10 a 1 ao rio Ave.
Aimêdês, e agora? Em que ficamos?
Tenho boas conjecturas sobre os dinamarqueses dizerem que não têm rios, acho que eles têm um bocadinho de vergonha de a colina mais alta do país não exceder os 140m de altura e consequentemente, além de terem pouca precipitação, 700 em vez dos nossos 854mm (https://imagenscomtexto.blogspot.com/2019/12/precipitacao-de-agua-em-portugal.html) tão pouco têm queda que propicie alguma hidroelectricidade. Não é uma questão de comprimento, o rio Lima tem 98 km e teve até há pouco tempo a central hidroeléctrica mais potente de Portugal, com 630 MW instalados em 2 grupos de 315MW em que cada um consegue arrancar de parado à potência máxima em 90 segundos, quando os grupos térmicos fazem o mesmo em termos de horas. Por outro lado devem sentir a falta de ter rios navegáveis, género Reno ou outros rios alemães coisa que em Portugal também não abunda, veja-se por exemplo o Basófias que passa por Coimbra ou ainda o rio Manzanares que passa por Madrid. Os cursos-de-água dinamarqueses, com caudal preguiçoso devem ter baixios que os tornam dificilmente navegáveis sem dragagens constantes. Se olhar para um mapa da Dinamarca verá que a quase totalidade das cidades têm porto no mar Báltico ou um golfo profundo que lhes permite aceder a esse mar, deve haver muita navegação de cabotagem pois o mar Báltico não terá vagas oceânicas. Na costa oeste da Jutlândia só vejo Esbjerg um porto estabelecido no século XIX actualmente o 2º porto mais importante da Dinamarca, exportando produtos agrícolas que devem chegar lá por combóio, antes disso a cidade não existia.
Tanta informação! :)
Também deve ser uma questão linguística: chamam "rio" aos cursos de água realmente caudalosos e com possibilidades de navegação, e dão outros nomes àquilo que têm. Por isso não têm "rios".
É engraçado ter referido as colinas da Dinamarca. É que o amigo com quem estive a esclarecer a questão dos rios terminou o seu comentário justamente com uma menção às montanhas - nesse caso, é bem mais evidente que não têm.
Excepto para mim, que tive de subir uma enconsta numa bicicleta sem motor. Um autêntico Evereste! ;)
Enviar um comentário