Não sei se se pode chamar "oração" ao terço que se rezava todos os dias ao fim da tarde na casa da minha avó. Uma maratona de sílabas, que digo eu?, uma corrida dos 100 metros. Um coro a duas vozes, ainda o naipe do "avé Maria" não tinha chegado à parte "dovóssventrJzus" já a segunda voz lançava o "SntMriaMãedDeus" a toda a pressa.
Na cozinha da minha avó, junto à lareira sempre acesa, ao pote com água quente, o terço era uma sessão jam cheia de ritmo. E um destrava-línguas.
Eu odiava o terço, mas divertia-me a seguir aquele despique.
À distância de meio século, o que me chama mais a atenção são os ritmos e o sentimento de pertença na comunidade rural que estavam subjacentes a estas orações. Os vizinhos que se juntavam naquela cozinha para rezar o terço com os da nossa casa, ou toda uma aldeia de pessoas paradas no meio do campo a rezar quando o sino anunciava o meio-dia. A própria missa dominical: talvez o mais importante não fosse a missa e o latim do padre, mas o adro: as conversas no adro, o momento semanal de paragem e convívio com toda a comunidade.
2 comentários:
Fico à espera de novos desenvolvimentos sobre o tema, e o conteúdo...
Era apenas um apontamento, Lucy. Não me peças um tratado. :)
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