A propósito do seu 90º aniversário, falámos do Umberto Eco na Enciclopédia Ilustrada, e alguém publicou este excerto de uma entrevista publicada no Expresso em 7.9.2015:
"O que se passa no mundo não é um fenómeno de imigração, mas de migração. A migração produz a cor da Europa. Quem aceitar esta ideia, muito bem. Quem não a aceitar, pode ir suicidar-se. A Europa irá mudar de cor, tal como os Estados Unidos. E isto é um processo que demorará muito tempo e custará imenso sangue. A migração dos alemães bárbaros para o Império Romano, que produziu os novos países da Europa, levou vários séculos. Portanto, vai acontecer algo terrível antes de se encontrar um novo equilíbrio. Há um ditado chinês que diz: 'Desejo-te que vivas numa era interessante'. Nós estamos a viver numa era interessante."
Ao ler, tropecei naquele "bárbaros". Conversa de romano, claro. Já contei aqui, mas repito: descobri isso no dia em que o Matthias, depois de uma visita escolar a um museu, me mostrou a técnica de fiação de um antigo povo germano da região da Turíngia.
Elogiei-o: "davas um bom bárbaro."
Ele pediu: "mãe, chama-me antes germano."
Tantos séculos depois, eu ainda falava como uma romanizada, e ele reconhecia a dignidade do povo que antes vivera naquela região.
"Bárbaro" - com todos os seus medos, com todas as suas rejeições - era o nome que o império romano dava aos de fora. Tantos séculos depois, continuamos iguais: cheios de medo dos "primitivos", dos "fanáticos", dos "diferentes" - os povos que ameaçam a nossa identidade.
Talvez um dia venhamos a descobrir que a maior parte deles afinal fia e tece a vida como a maior parte de nós.
2 comentários:
Barbaros sim. Tinham uma cultura brutalizada e barbara mesmo tendo em conta a época. Estudar ajuda a compreender.
"Tinham"? A que povo se refere concretamente, e em que época?
Ou está a dizer que todos os povos não romanos, na época do colapso do império (ou antes) tinham uma cultura brutalizada e bárbara?
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