29 outubro 2022

"zona entremarés"


 


Partilho mais um post que escrevi para a Enciclopédia Ilustrada: A propósito de #zona_entremarés, um colega enciclopedista lembrou - e bem! - o Mont Saint-Michel.

"Normando por parte da mãe, e bretão por parte de um amigo do pai...", dizia a rir o nosso hospedeiro, quando lá passámos uma noite no verão de 2020. Era normando, ele.

Chegámos às cinco da tarde, em hora de maré baixa, quando inúmeros grupos de caminhantes se espalhavam em magotes pelo areal. Não tínhamos reservado um guia, e decidimos ir por nossa conta e risco. Os nativos do monte ficaram preocupados. Recomendaram-nos evitar as zonas de areias movediças ("na parte norte há um rio, cuidado com ele!"), ensinaram-nos o que fazer se fôssemos apanhados (ponham-se de joelhos, e chamem os bombeiros!") e disseram-nos para não regressar a casa com os pés sujos.

E nós lá fomos. Espertinhos, fomos no encalço de um grupo com guia. Eles andavam, andavam, andavam, e nós satisfeitíssimos da vida, porque podíamos tirar fotos impecáveis do lado norte do monte a reflectir-se na água que entretanto ia subindo. Os outros continuavam a andar - até que nos apercebemos que não tencionavam voltar para trás e regressar ao monte, e nos vimos obrigados a arrepiar caminho. O que era óptima ideia, porque a maré (diz-se) naquele sítio sobe à velocidade de um cavalo a galope. Além disso, não era difícil: o nosso destino estava ali mesmo à nossa frente. Apenas umas centenazitas de metros.

Só quando os pés se começaram a enfiar cada vez mais fundo na lama é que nos lembrámos das areias movediças. O famoso rio no lado norte do monte! E atrás de nós a maré.

Avançámos: com passos rápidos e largos, tentando manter o equilíbrio apesar do chão que cedia ao nosso peso e se abraçava às nossas pernas.

Finalmente no rochedo, pasmámos com a lama que nem aos joelhos chegava. Durante a travessia, estava capaz de jurar que quase me tocava o umbigo!

Lavámo-nos na torneira do cemitério (elementar, meu caro Watson: em que outro sítio haveria uma torneira pública?) e regressámos a casa a tempo de saborear o entardecer na água a partir de uma das nossas janelas (a outra dava para a abadia).

Na manhã seguinte levantei-me antes do sol e subi ao alto do monte para o ver nascer ali.
Valeu a pena.

Depois do pequeno-almoço visitámos a abadia (e como estávamos no monte, fomos os primeiros - quase não havia mais turistas) e a seguir partimos para Omaha Beach, que os nossos amigos queriam muito visitar nesse dia antes de se fazerem à estrada para a Alemanha. De modo que não pudemos almoçar por ali o famoso borrego com o sabor especial que resulta de se alimentar das ervas que crescem entre marés - os rebanhos dos prados salgados. Podem ver neste filme:

O filme só não explica se dão cerveja aos pobres bichos para lhes matar a sede depois de uma dieta tão pesada de sal.

Deixo aqui algumas fotografias sobretudo da zona entremarés. Desculpem serem tantas, mas não consigo escolher quais deixar de fora.














2 comentários:

jj.amarante disse...

Lindas!!

Maria disse...

Parabéns querida Helena, belas fotos. 😘