09 outubro 2022

pecados

 


O Luís Aguiar-Conraria partilhou no seu mural do facebook esta passagem de um dos livros do pai dele, Cristóvão de Aguiar, em que descreve uma ida ao confessionário no despontar da adolescência. Era a propósito da risota que aparentemente por aí vai por causa de uma crónica da Isabel Moreira sobre as perguntas a que se sujeitava no confessionário. 


Lembro-me bem desse tempo. Ia preparada, com a lista de pecados por escrito, para não me esquecer de nenhum. Deviam pesar-me muito na consciência, deviam...

Fazia a minha lista a partir de um livrinho da minha avó. Páginas e páginas de pecados em letra miúda, muitos que eu não entendia, e os meus eram sempre os mesmos: desobedeci aos pais, bati aos irmãos, menti. Às vezes incluía um livro não devolvido, ou trabalhar pouco para a escola. 

Até que chegou o dia em que apareceu um pecado novo na minha vida. Encontrei o nome certo no livrinho, e lá fui eu, de coração pesado, ao confessionário:

- Pequei contra a castidade. 
- Sozinha ou acompanhada?
- Acompanhada.
- Rapaz ou rapariga?

O raio do homem queria saber tudo. E eu a pensar "mas se Deus está em todo o lado, e tudo vê, porque é que este seu secretário vem cá pedir detalhes do ocorrido?



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