Por nada deste mundo queria estar no lugar dela a partir do momento em que Eduardo VIII abdicou. Ela, provavelmente, também não. Mas aceitou a prisão dourada que lhe coube em sorte, e cumpriu o seu destino com dedicação, dignidade, responsabilidade. E sabe Deus com quanta angústia, quantas dúvidas, quanta dor.
Ao saber da morte dela, foi nisto que pensei:
Os cães. Sempre. Até há alguns anos, quando decidiu que não teria mais nenhum. Para não os deixar órfãos, caso morresse. E depois o Harry e a Meghan foram para os EUA, e depois aquela entrevista à Oprah, e então decidiu que afinal queria ter cães. Talvez se sentisse órfã, ela própria.
O príncipe alemão, sobrinho de nazis. Por quem se apaixonou aos treze anos. Por quem enfrentou a máquina da monarquia: "ou este, ou nenhum".
Um dos poucos momentos em que fugiu às regras, e tomou uma posição clara: contra Thatcher, contra o apartheid. Que mesmo uma rainha, por muito neutra que tenha de ser, não é de ferro.
A delicadeza de retribuir o gesto de Michele Obama quando esta, contra todas as regras da etiqueta, lhe pôs afectuosamente a mão sobre os ombros.
Diz-me a tua opinião sem me dizeres a tua opinião: o chapéu de protesto contra o Brexit.
A imagem mais trágica que conheço da rainha. A mais terrível solidão.
Das comemorações de 70 anos de reinado, lembro este momento de afecto: como se fossem uma família normal.
E ainda:
Parece que esta cooperação com James Bond foi ideia da rainha, mantida em segredo até da própria família.
"Thank you. For everything."
(E agora, se me permitem uma brincadeira: maldito liberalismo! Na Grã-Bretanha já chegou ao ponto de imporem um primeiro emprego a pessoas com mais de setenta anos! Mas pronto, o que tem de ser tem muita força: God save the King.) (Isto do primeiro emprego é mesmo piada, claro. A gaiola de Carlos é tão dourada XXL que nem a primeira mulher pôde escolher com liberdade. E tem feito um trabalho exemplar, nomeadamente a alertar o mundo para a necessidade de respeitar a natureza - desde há cerca de meio século.)
6 comentários:
acredito que, pelo menos, estarão divertidos...
E, já agora, obrigada pela "reportagem" sobre a rainha. Diz tudo.
Obrigada, Lucy.
Não entendi o primeiro comentário: divertidos, quem?
Em tempo:
corrigir Eduardo VII, para Eduardo VIII.
O primeiro não era para aqui... era para os deuses que brincam contigo ou com os teus painéis solares.
Peço desculpa pela confusão
Lucy, aaaah! Agora entendi. :)
APS, muito obrigada! Já corrigi.
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