08 setembro 2022

the queen

 

(Chris Levine, Lightness of Being, 2004)


Por nada deste mundo queria estar no lugar dela a partir do momento em que Eduardo VIII abdicou. Ela, provavelmente, também não. Mas aceitou a prisão dourada que lhe coube em sorte, e cumpriu o seu destino com dedicação, dignidade, responsabilidade. E sabe Deus com quanta angústia, quantas dúvidas, quanta dor. 

Ao saber da morte dela, foi nisto que pensei:



Os cães. Sempre. Até há alguns anos, quando decidiu que não teria mais nenhum. Para não os deixar órfãos, caso morresse. E depois o Harry e a Meghan foram para os EUA, e depois aquela  entrevista à Oprah, e então decidiu que afinal queria ter cães. Talvez se sentisse órfã, ela própria. 


O príncipe alemão, sobrinho de nazis. Por quem se apaixonou aos treze anos. Por quem enfrentou a máquina da monarquia: "ou este, ou nenhum". 


Um dos poucos momentos em que fugiu às regras, e tomou uma posição clara: contra Thatcher, contra o apartheid. Que mesmo uma rainha, por muito neutra que tenha de ser, não é de ferro. 


A delicadeza de retribuir o gesto de Michele Obama quando esta, contra todas as regras da etiqueta, lhe pôs afectuosamente a mão sobre os ombros.


Diz-me a tua opinião sem me dizeres a tua opinião: o chapéu de protesto contra o Brexit.

 


A imagem mais trágica que conheço da rainha. A mais terrível solidão. 



Das comemorações de 70 anos de reinado, lembro este momento de afecto: como se fossem uma família normal. 

E ainda:



Parece que esta cooperação com James Bond foi ideia da rainha, mantida em segredo até da própria família. 


"Thank you. For everything."


(E agora, se me permitem uma brincadeira: maldito liberalismo! Na Grã-Bretanha já chegou ao ponto de imporem um primeiro emprego a pessoas com mais de setenta anos! Mas pronto, o que tem de ser tem muita força: God save the King.) (Isto do primeiro emprego é mesmo piada, claro. A gaiola de Carlos é tão dourada XXL que nem a primeira mulher pôde escolher com liberdade. E tem feito um trabalho exemplar, nomeadamente a alertar o mundo para a necessidade de respeitar a natureza - desde há cerca de meio século.)


6 comentários:

Lucy disse...

acredito que, pelo menos, estarão divertidos...

Lucy disse...

E, já agora, obrigada pela "reportagem" sobre a rainha. Diz tudo.

Helena Araújo disse...

Obrigada, Lucy.
Não entendi o primeiro comentário: divertidos, quem?

APS disse...

Em tempo:

corrigir Eduardo VII, para Eduardo VIII.

Lucy disse...

O primeiro não era para aqui... era para os deuses que brincam contigo ou com os teus painéis solares.
Peço desculpa pela confusão

Helena Araújo disse...

Lucy, aaaah! Agora entendi. :)

APS, muito obrigada! Já corrigi.