29 setembro 2022

St. Pernocas Day 2022 - com um special guest star

 

No domingo passado andámos numa roda-viva por causa da maratona de Berlim. Melhor dizendo: por causa de um certo maratonista acidental, o nosso Matthias, que no ano passado decidiu correr esta maratona, comprou o bilhete, e depois, uma coisa e outra, meteu-se o natal, enfim, já se sabe, e não se preparou. Como não é permitido devolver o bilhete ou passar a outra pessoa, foi experimentar correr para não perder o dinheiro em vão. Preparámo-nos para lhe ir dar uma forcinha ali por alturas da meia-maratona, e... aqui deixo o relato, mais ou menos como o fui fazendo no facebook: Uma hora depois do início da maratona fomos esperar os vencedores numa curva perto da nossa casa. Havia uma banda na esquina, a espera era mais que agradável (e adorei ver os impermeáveis dos voluntários de apoio à maratona deste ano. Se soubesse que eram tão engraçados, tinha-me oferecido para ajudar, só para ficar também com um.)



E lá apareceram eles. Os dois primeiros muito à frente, já sem „lebre“. Ao km 25.



O grupo que vinha atrás deles passou ao som de um tema de bossa nova tocado pela banda jazz do lado de lá da rua. Só por causa da música já valia a pena correr esta maratona. Melhor dizendo: acompanhá-la de bicicleta, e parar um pouco onde desse vontade de ficar.


O primeiro alemão que nos apareceu só era alemão há uma semana.
(Ainda só tinha uma semana nesta nação de excelência e já corria tão bem…)

As primeiras mulheres apareceram no km 25 mais ou menos à hora a que o bloco do Matthias largou finalmente a correr.

Aproveitámos o Matthias estar no quilómetro 15 para ir tomar o pequeno-almoço no 25. Em frente à varanda onde Kennedy disse que era um Berliner. A varanda não se vê na fotografia, por causa das árvores. Tivesse Berlim um presidente da câmara como Coimbra, e via-se tudo até às traseiras do prédio…



A maratona é também isto: olhar para um quadrado castanho no mapa de Berlim e pensar „meu rico filhinho“.

Vimo-lo no km 25: fresquinho como uma alface do Lidl acabada de sair da cama.
E no km 30. Igualzinho, um sorriso enorme, a comer descansadamente uma banana. Depois, por palermice, já só lhe vimos as costas uns km à frente.
Pusemo-nos a caminho de Unten den Linden como se a vitória fosse nossa.
Este é o rapaz que não se preparou nada de nada para a maratona, e só a foi correr porque já não podia devolver a inscrição. Era para ver o ambiente, e ver até aonde conseguia ir… E ali ia ele, de cara fresca, menos de duas horas atrás do record mundial. (Tem a quem sair: a preparação do padrinho dele consistia em passar a fumar menos.)

E mais música:





Vi passar um tipo embrulhado numa Porta de Brandeburgo feita de espuma, e também uma mulher vestida de noiva (ou talvez bailarina - o marxismo cultural altera todas as referências e depois uma pessoa fica sem entender o que vê). Mas há muito menos brincalhões do que há três décadas. Parece-me. Talvez seja uma consequência pouco estudada do fim da Guerra Fria.







Sinal dos tempos: várias bandeiras da Ucrânia, sempre muito aplaudidas.



Também vimos um tipo a correr de costas. Mais um sinal dos tempos...



Tínhamos uma bandeira da Bretanha
para o Matthias nos reconhecer no meio de um milhão de espectadores, ou algo assim. (Quem criticar a escolha, esteja à vontade para nos dar uma portuguesa - mas com castelos em vez de templos - ou outra que lhe pareça melhor. Aceitamos tudo, só não prometemos brandir uma bandeira qualquer que nos ponham na mão. Sim, que hoje em dia já ninguém adere assim sem mais nem menos a qualquer palermice que lhe queiram impor. Primeiro, tem de andar nas bocas das redes sociais, na CMTV, nos sites de fake news...)

A bandeira era grande, via-se bem, era muito prática para ele nos encontrar. O problema eram os corredores franceses. Nunca me disseram tantos "Vive la Bretagne!" e "Vive la France!" como no domingo passado. E até esta exclamação de um maratonista: "vocês, bretões, estão por todo o lado!" O Joachim gritava-lhes em troca: "allez, les bleus!". Mas eu sentia-me um fake. "Vocês, bretões", "vive la France!": não era eu, não era a minha pele. (Lembrei-me das pessoas não binárias. Como será a vida delas, permanentemente tratadas como se fossem o que não são.)


O Matthias entrou em Unter den Linden a rir, ainda fresco como a tal alface. Acenou, riu-se da nossa barulheira (entretanto já tínhamos um clube de fãs, do México, à espera do "rapaz mais giro da maratona, com camisola verde alface", continuou em direcção à Porta de Brandeburgo. E chegou à meta em 3:58 e picos.



Em suma: no domingo passado tive um ataque de mãezite aguda, mas já passou.
Quase.


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