29 setembro 2022

St. Pernocas Day 2021

À procura de outros posts neste blogue sobre a maratona de Berlim, descobri que escrevi este há um ano, mas não o publiquei. Publico agora, com desculpas pelo atraso: 


O grande acontecimento de fins de Setembro em Berlim é a maratona: St. Pernocas Day.

No domingo de manhã fomos de bicicleta até ao km. 30, que fica relativamente perto da nossa casa. Chegámos bem antes dos corredores (mas pronto, também íamos de bicicleta...). Vimos o primeiro maratonista de cadeira de rodas chegar, e tratámos de atravessar a rua para não ficar com centenas de fotografias com fantásticos efeitos especiais, como esta:


Daí a pouco apareceu o carro que anunciava os campeões. Empolguei-me, comovi-me, atrapalhei-me, filmei o carro e não filmei nem fotografei bem os corredores, enfim...
A seguir apareceu o carro que anunciava a primeira mulher, e atrapalhei-me de novo porque a confundi com o homem que vinha mesmo à frente dela, e fotografei a pessoa errada. A culpa é do marxismo cultural: se deixassem as mulheres de rosa e os homens de azul tudo se tornava mais simples para cerebrozinhos mais limitados como é o meu... (espero que tenham reparado nas reticências: era piadinha)

Não sei se é por causa da pandemia, e de pela primeira vez em tanto tempo sentir de novo a cidade a encontrar-se consigo própria, não sei se será por outro motivo qualquer, mas no domingo passado senti de forma diferente aqueles desconhecidos que passavam por mim a correr. Comoveram-me no seu esforço visível para fazer os últimos 12 km, no repentino brilho no olhar ao agradecer o meu "go! go! go! go!" rouco, nos detalhes da roupa que escolhiam (o homem todo vestido de rosa, o homem que corria descalço), no controle rápido do tempo no relógio de pulso. Não eram bem 25.000, eram mais 1+1+1+1+1+1+1+1+...

A etíope Gotytom Gebreslase, que competia pela primeira vez e ganhou o primeiro lugar, correu com um crucifixo ao pescoço. Se bem me lembro do tempo em que os meus participavam nesta maratona, havia que eliminar tudo o que era supérfluo, e evitar todas as fricções. Os mamilos cobertos com um penso rápido, os calções escolhidos cuidadosamente para não cortarem a pele. Sendo católicos, estava fora de causa levarem um crucifixo a bater no esterno a cada passo daqueles 42 km. Mas Gotytom Gebreslase correu com um crucifixo ao pescoço, um crucifixo bem grande. E ao passar a meta benzeu-se e apontou para o céu.
Vi também uma israelita que seria provavelmente ortodoxa: corria com lenço na cabeça, leggings e vestido até ao joelho.

Por sorte havia também os que corriam vestidos de palhaço, ou de noiva, ou de - sei lá - torta gigante. Os que corriam de cartola. Ou um compadre meu, que há muitos anos correu com uma bandeira do FCP (era a única que tínhamos) só porque já correra tantas maratonas que daquela vez lhe apeteceu fazer algo diferente. Não fossem eles, e eu poderia tirar conclusões precipitadas sobre a religião.








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