19 setembro 2022

respeito ou desrespeito

 

Manuel Carvalho escreve no Público: «A igualdade de tratamento entre uma rainha britânica e Presidentes que lutaram pela democracia e exerceram os mais altos cargos no serviço público não é apenas um sintoma de provincianismo: é um sinal de desrespeito do país para consigo próprio.»

Ora bem, sinceramente, e por partes:

1. A lei portuguesa prevê que o luto nacional "é ainda declarado pelo falecimento de personalidade, ou ocorrência de evento, de excecional relevância". Não tem de ser sempre um presidente da républica. E só com muito esforço se consegue fazer de conta que a rainha Isabel II não era uma personalidade de excepcional relevância. Claro que se pode perguntar "de excepcional relevância para quem?", mas era a representante mais alta de um país que nos é muito próximo. Além disso, é ver as televisões de todo o mundo, para perceber que era uma figura relevante , quer nos agrade quer não.

2. Serei a única a achar que esta afirmação sobre aquela rainha valer menos que um presidente da República encerra alguma arrogância em relação ao povo que ainda quer ter um sistema monárquico e chora esta sua rainha como nunca choraria um presidente? Há algo ligeiramente impositivo neste nosso dizer à Grã-Bretanha qual é o sistema político que eles devem ter, se quiserem ser levados a sério por Portugal.

3. Se calhar entendi mal, mas se há quem tenha "exercido os mais altos cargos no serviço público" é a Isabel II. Os eleitos democraticamente entregam anos da sua vida ao serviço público; esta rainha entregou a vida inteira para fazer o serviço público que o país esperava dela.
Não concordo com isso (passo a vida a dizer que era um caso para o tribunal dos direitos humanos), mas como não sou nenhuma das partes envolvidas (nem a rainha nem o povo que a quis ter), limito-me a aceitar as decisões deles.


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