19 setembro 2022

live-ticker funeral

 



Trago do meu mural de facebook o live-ticker que fiz sobre o funeral da rainha:


Só para chatear quem acha que na Alemanha não se embarca nestes seguidismos: os dois canais públicos alemães estão AMBOS a transmitir o funeral da "tal velhota", O DIA INTEIRO.

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Hoje está a ser um dia fantástico para dar um adianto à roupa para dobrar e para passar.
Se calhar ainda aproveito para trocar a roupa de verão pela de inverno.
A música está uma maravilha.
E, convenhamos, a monarquia pode não servir para nada, mas em termos de espectáculo, são profissionais.

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Durante o Pai Nosso, a câmara passou por algumas filas dos presentes. Se eu fosse à rainha, que a bem dizer era a papisa da Igreja Anglicana, saía do caixão e vinha ralhar com eles: estavam todos a ler o Pai-Nosso pelo livrinho.
Sinceramente: se todos estes figurões (quase todos homens brancos de certa idade) não sabem o Pai Nosso, não sei porque é que se diz que somos o Ocidente Cristão.
Agora, estão todos calados.
(calados, são uns artistas...)

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Como é que os rapazes que carregam o caixão conseguem descer os degraus sem cair, apesar de estarem sempre a olhar fixamente para um ponto distante à frente deles?
Será que ao lado deles vem alguém a dizer "frio, morno, quente, a escaldar"?
E como é que conseguiram segurar aquilo tudo em cima do caixão, sem deixar tombar nada?
(Estou em crer que puseram uma placa com ímanes por baixo da bandeira. E vocês: qual é o vosso palpite?)

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Pergunto-me que sapatos terão posto as princesas, duquesas e assim da família real. Espero que não estejam a fazer esta marcha atrás do caixão em cima de saltos altos vertiginosos.
Mas claro que o director da transmissão não tem atenção aos aspectos mais importantes. Muitos marujos, muitos marujos, mas ainda não lhe ocorreu fazer um grande plano aos sapatinhos.
ADENDA: parece que as senhoras não estão a marchar ao lado dos maridos.
SEGUNDA ADENDA: Ai caramba! Esqueci-me da princesa Ana. Vai com uniforme militar, e sapatos confortáveis.

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Post novo, em vez de acrescentar mais uma adenda ao post anterior: as mulheres e as crianças vão em carros, atrás do cortejo. Não sei que me parece, ir de carro para fazer umas centenas de metros! Dizem que o Carlos III tem preocupações ecológicas, e portanto das duas, uma: ou são uma espécie de hobby, ou então nem na família o deixam mandar. Era só dizer às senhoras que pusessem um calçado confortável, e pronto.
Pfff.

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Os dois filhos mais velhos do William: sete e nove anos. Comportamento exemplar. Não sei se lhes estou a fazer um elogio, ou a sentir pena deles.

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Não sei que me parece não terem feito bancadas ao longo das avenidas para o povo poder ver melhor e com mais conforto. Se não sabiam como é que isso se faz, fossem a Viana, à Senhora da Agonia, ver como é fácil de organizar. Depois era vender os bilhetes a 10 libras, ainda ganhavam uns trocos para pagar as despesas da cerimónia.

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Já são quase duas da tarde. Quase me esquecia de almoçar. Quanto tempo é que isto vai demorar?
E como é que aquela gente toda aguenta a fome?
(Ai, pequeno-almoço inglês, claro. Devem ficar a arrotar os feijões até ao chá das cinco.)

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Podiam ter treinado um bocadinho melhor os alinhamentos. Já vi ranchos do Alto Minho mais bem alinhados (e a dançar ao mesmo tempo, para que conste!).

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O carro que leva o caixão para Windsor foi arranjado especialmente para a ocasião: tem um tejadilho de vidro, para o maior número possível de pessoas poder ver.
Se calhar foi por isso que demoraram tanto tempo para fazer o funeral. Atraso no fornecimento do material. (Visto de cima, o queen-mobile faz mesmo boa figura.)

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Tenho estado aqui na galhofa, mas: há ali uma família que perdeu a mãe, a avó, a bisavó, a tia, etc. e tem de fazer boa figura porque pode estar a ser vista por quatro mil milhões de pessoas.
(Disse e repito: não trocava a minha vida pela gaiola de ouro deles nem por nada.)

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Ouvi agora na ARD: "Temos estado a assistir ao grande ballet britânico em toda a sua perfeição."
(Acrescento eu: e o vestido da Meghan é muito bonito.)
(Momento lagriminha: as rosas atiradas para para o "queen-mobile" quando ele passa. A homenagem das pessoas comove-me.) (Acho que vou finalmente almoçar, a ver se me passa.)

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Momento "isto só em Portugal..."
Uma jornalista alemã está a entrevistar um tipo que fez 300 km com os filhinhos para o último adeus à rainha. E então, diz ela: "o carro está quase a chegar, vou entrevistá-lo agora."
Começam a falar, o desgraçado do homem educadamente a falar com ela, enquanto atrás todos se apressam para ver o carro passar.
(Havia de ser comigo... dizia-lhe "olhe, conte aí mais umas patacoadas, que eu volto já.")

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Bom. Aguentem-me aí a viagem até Windsor, que agora tenho mesmo de ir almoçar.

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Já cá estou outra vez. Mostram imagens dos preparativos em Windsor. Juro que acabei de ver duas colunas de guarda de honra (daqueles de capacetes dourados e fitinhas brancas em cima) (eis como acabei de mostrar que não percebo nada disto) a escoltar um homem e uma mulher que levam coisas para dentro do palácio. Ela tem uma caixa de plástico (parece um necessaire, mas em rasca) e ele leva duas caixas termos azuis, daquelas para piquenique.
As colunas de fitinhas brancas, entendo, porque hoje é o dia deles. As caixas termos, também, porque dão sempre jeito.
Mas as duas coisas juntas?!
(Não percebo nada de protocolos de funerais reais.)

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Hehehe, vi os carros a avançar por cima dos riscos tracejados que separam as duas faixas da estrada.
Até parece que sou eu quem vai ao volante...
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E viram como o tempo está bom por onde o cortejo passa?
Se isto não é um milagre, não sei o que é um milagre.
- Santa subito!

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Windsor. Ai jajus! Tantas escadas para subir aquele caixão? Será que prenderam o corpo lá dentro, para ficar esticadinho, ou chega ao fim da escalada com o corpo assim como se estivesse com vontade de se aninhar?
ADENDA 1: Espero que a cabeça fosse na parte da frente.
ADENDA 2: Quem é o realizador desta transmissão? Quando a gente precisa de ver a inclinação do caixão, ele não mostra imagens de lado. Dorminhoco!

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Oh, não! Em Windsor também precisaram da cábula para dizer o Pai-Nosso.
Estão todos com Alzheimer, ou quê?

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Finalmente percebi os truques: o ceptro vinha preso a um suporte com molas, o orbe estava espetado num coiso e a coroa também tinha um suporte alto. Só espero (isto é uma preocupação recorrente) que também tenham prendido bem o corpo da defunta. Daqui a mil anos aparecem aí uns arqueólogos que abrem o caixão e descobrem umas ossadas todas descompostas. Não sei que me parece. *

Comovente: o momento em que o caixão começa a descer, e o músico da gaita de foles se vai afastando. Mais a luz. Mais a arquitectura.
Mais a cara do Carlos, que se está a despedir da mãe e a herdar um fardo bem mais pesado que o dela, porque a ela muito se tolerava, e a ele tudo se exige. Ela garantia a permanência da velha ordem, ele chega demasiado tarde a um mundo em profunda crise.

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E lá foram eles. Daqui para a frente, a despedida é em privado.
Em privado, é como quem diz. A Kate não vai poder tirar os sapatos e queixar-se das dores nos pés, porque a Meghan vai estar a ouvir e pode pespegar tudo num jornal ou no seu podcast.
Se alguém fizer uma piadinha, idem.
Ou um desabafo. Ou sei lá o quê.
Não deve ser fácil estarem ali, finalmente "em privado", com a sensação que tudo o que disserem ou fizerem pode vir a público um dia destes.

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Em termos de imagens, isto parece uma superprodução da BBC. Dois exemplos:
Os últimos dois corgis da rainha, à espera do cortejo com o corpo da dona.

O cavalo da rainha, em Windsor, a ver passar o seu caixão, com os relvados impecavelmente decorados com as flores que as pessoas deixaram ao longo destes dias.
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E agora um pouco de análise comparativa: na ARD encontrei várias mulheres a comentar com competência. Na ZDF havia uma mulher competente e um homem a fazer simultaneamente figura de ignorante e mansplaining. Noutra altura seria divertido. Hoje senti apenas uma irritação tão grande que acabei por ver até ao fim na ARD.

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Foi bonito ver tantas pessoas tocadas por um sentimento de comunhão, ao assistirem em conjunto a este momento histórico. O último serviço que a rainha prestou ao seu país.

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