08 junho 2022

sexto sentido

 


Andei a passear pelo blogue do Wladiminir Kaminer, e este post provocou-me várias gargalhadas. Traduzo, e depois me dirão se também riram. 
(Infelizmente, os posts mais recentes estão bem longe de serem assim divertidos.)



29.11.2021

Sexto Sentido


A imprensa foca-se muito sobre o que pode acontecer às pessoas que não querem ser vacinadas, mas quase não se ouve nada sobre pessoas que levaram vacinas a mais. No entanto, elas existem. O meu amigo russo K. foi vacinado seis vezes, não por motivos de saúde, mas políticos. Precisava de ir com urgência a Moscovo visitar a sua mãe, que adoecera. Apesar de estar completamente vacinado, para fazer a viagem teve de se vacinar duas vezes com Sputnik porque as vacinas alemãs não são reconhecidas pela Rússia, são discriminadas porque os europeus desprezam as vacinas russas, embora estas sejam feitas com o mesmo vírus morto que as alemãs, um jogo sujo da política – como diz o meu amigo. Para regressar à Alemanha não podia usar os códigos QR russos, e antes da viagem não tinha digitalizado as suas velhas vacinas alemãs. De modo que, por uma questão de segurança, teve de repetir o processo com as vacinas alemãs. “Vacinas de todo o mundo, uni-vos!”, brincava K. a propósito da sua vacinação. Como alguém que tinha sido vacinado seis vezes, ou seja, estava bem atestado de vacinas de todos os países, fez um teste de anticorpos em Berlim, queria saber quantas proteínas protectoras nadavam no seu sangue. Os limites ainda não estão claramente definidos, mas presume-se que um valor entre 16 e 24 proporcionaria protecção suficiente, disse o médico. O teste de laboratório de K. mostrou 4000 e isso foi apenas porque os dispositivos só podem medir até esse limite, como o médico lhe explicou. Possivelmente o nosso amigo tem mais anticorpos do que uma cidade europeia de tamanho médio. É pena que o mito da chipização da população seja apenas um conto de fadas. Fosse isso verdade, o meu amigo poderia resolver os estrangulamentos na produção de chips e fornecer à indústria automóvel alemã os chips do seu corpo. Da última vez que nos vimos, ele relatou que todos os seus sentidos ficaram muito apurados após a sexta vez que foi vacinado, como se pudesse ouvir o que os vizinhos do andar debaixo estão a dizer, consegue cheirar um stand de kebab a cem metros de distância e já não precisa de óculospara ler. Além disso, desenvolveu-se nele uma espécie de sexto sentido, um instinto noticioso. Intuitivamente, sabe o que vem nas notícias. Já não preciso de ver o noticiário, diz K. Mesmo antes de pivot aparecer no ecrã, sei o que está para vir.

1 comentário:

Mau-tempo disse...

humor inteligente e realmente pouco comum nos dias que correm. muito agradecido pela partilha.