Os meus vizinhos - russo e ucraniana - insistiram com os seus amigos em Kyiv para que se refugiassem na casa deles o tempo que fosse preciso. Foi difícil convencê-los, que não era preciso, que não queriam incomodar...
Vieram, finalmente: mãe e dois filhos. A miúda é amorosa. Volta e meia toca à nossa campainha para vir buscar a bola que caiu no jardim.
Vi-os a caminho da escola na manhã a seguir a termos todos sabido o que acontecera em Bucha. Vi-os da minha janela. Compaixão deve ser isso: ver miúdos a caminho da escola, e ficar com os olhos cheios de lágrimas.
Vejo a mãe frequentemente no jardim. A olhar para o smartphone, e a fumar. Há dias, vi-a assim bem cedo, ainda nem sete da manhã. São as férias da Páscoa. Ocorreu-me que o ritmo imposto pela escola é uma rede que impede a mãe de cair ainda mais fundo nos seus abismos.
Este filme é muito bonito, mas não nos iludamos: estas pessoas estão a atravessar o mais horrível dos pesadelos.
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