02 fevereiro 2022

estrelas amarelas (2)

 


"Liberdade implica responsabilidade"
(cartaz numa manifestação de oposição a um "passeio" de pessoas anti-covi)


Esta manhã anunciaram na Alemanha que muitos Estados da Federação vão proibir as pessoas não vacinadas de, para se armarem em vítimas, traçarem paralelos com o Holocausto. Como, por exemplo, porem ao peito uma estrela amarela onde se lê "não vacinado".

Nem devia ser preciso explicar porquê, mas como ultimamente as pessoas andam cada vez mais distraídas, aqui vai a justificação: comparar o que acontece hoje em dia aos não vacinados com a perseguição que o regime nazi moveu aos judeus com o objectivo de os assassinar até ao último constitui uma relativização grotesca e inaceitável daquele indescritível horror, e pode ser considerado um acto de reforço do ódio anti-semita.

Sim, é verdade que começa a haver uma certa segregação dos não vacinados. O que não admira, uma vez que são um factor de risco para a sociedade: em termos da saúde das outras pessoas, do colapso do sistema de saúde, e do colapso dos serviços em geral (por exemplo: neste momento há serviços irregulares nos transportes públicos em Berlim porque muitos condutores estão em casa com covid).

Mas, na realidade, é apenas mais uma das segregações a que nos vamos habituando: como os hotéis que não aceitam famílias com crianças, ou os seguranças à porta de clubes e discotecas que não deixam entrar quem quer, ou as escolas privadas que escolhem cuidadosamente os alunos que as podem frequentar.
E é bem menos grave que um outro tipo de segregação a que assistimos quotidianamente: pessoas de grupos minoritários que têm dificuldade para conseguir arrendar casa, arranjar emprego, andar na rua sem sentir por vezes desconfiança por parte dos outros.
Mas nem essas se lembrariam de chamar a atenção sobre si recorrendo ao símbolo do horror absoluto.

--- Hoje ouvi na rádio um entrevistador perguntar qual era a ideia dos políticos que por um lado impõem a vacina obrigatória para todas as pessoas que trabalham no sector da saúde, e por outro lado autorizam pessoas infectadas com covid a trabalhar em lares de terceira idade. Estranhei ele estar a falar como se acreditasse que era possível acontecer tal coisa, quando era claramente mais um daqueles casos em que o pobre tem mesmo de desconfiar, porque a esmola era milionária. O que se passou afinal: deu-se um surto de covid num lar de terceira idade, onde havia muitas pessoas com demência e portanto incapazes de aceitar regras simples como "não saia do seu quarto". Muitos dos funcionários do lar foram também infectados. Dada a situação de absoluta ruptura de pessoal, houve uma autorização excepcional para que, caso estivessem disponíveis para o fazer, os funcionários infectados, mas sem sintomas, pudessem trabalhar na parte do lar reservada aos doentes infectados.

--- Tempos muito difíceis estes, em que as pessoas preferem captar apenas os sinais que lhes permitem imaginar que o mundo enlouqueceu, e depois se zangam muito com esse mundo imaginário. Às tantas, os maluquinhos das manifestações que põem estrelas amarelas no casaco até acreditam que de facto lhes está a acontecer uma espécie de Holocausto. (O que me lembra uma miúda numa manifestação em 2020, queixando-se que teve de festejar o seu aniversário clandestinamente, e por isso se sentiu como a Anne Frank...)

---

Esta manhã, 2.2.2022, a situação de vacinas na Alemanha era assim: 

(lilás: vacinados com o reforço
 azul escuro: imunização básica - duas doses de vacina, ou uma dose e uma recuperação
 azul claro: início do processo - primeira dose
 cinzento: não vacinado)


Totais:


Maiores de 18 anos:


Dos 12 aos 17 anos:



Sem comentários: