Partilho, da Enciclopédia Ilustrada, um texto de Fernando Gomes sobre o tema "honradez":
"Sendo a #honradez uma qualidade humana, a verdade é que não foi distribuída igualmente entre homens e mulheres.
Quando se fala de um homem honrado, imediatamente se lhe associam honestidade, justiça, carácter, integridade. Já a uma mulher honrada se ligam recato, decência, decoro, pudicícia, castidade.
Na nossa sociedade, portanto, a honradez do homem encontra-se vinculada a uma postura essencialmente intelectual e positiva, enquanto a da mulher se manifesta através da opressão de atitudes físicas (privação dos prazeres, moderação nas palavras e nos gestos).
Daí que os dicionários nos digam que um homem desonrado foi desacreditado, infamado, injustiçado; e uma mulher desonrada foi desflorada, desvirginada, violentada.
A diferença semântica no que à honra diz respeito está bem patente nos provérbios. Eis alguns com referências à mulher honrada:
Dai-me mãe acautelada, dar-vos-ei filha honrada;
Mulher honrada deve ser calada;
Mulher honrada não tem olhos nem ouvidos;
Mulher honrada é a menos falada.
Deles se conclui que a mulher honrada deve ser muda, cega e surda. Restam-lhe o sentido do tacto (para usar com parcimónia, claro) e o do gosto (certamente para acertar o tempero do jantarinho do marido). Tudo isto com o objectivo de que falem pouco dela.
Até quando?"
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