A mãe do Aaron e eu estivemos grávidas na mesma altura. De mim nasceu o Matthias, e dela nasceu um miúdo com síndrome de Ondine: quando adormece, deixa de respirar.
Podia ter-nos acontecido ao contrário (a vida é um passeio belíssimo na berma do abismo).
O Aaron passou o primeiro ano de vida nos cuidados intensivos, rodeado de apitos e luzes a piscar. Depois foi para casa, e enquanto dormia tinha de haver alguém acordado a velar pelo seu sono. Os pais suspeitam que volta e meia o cuidador tenha adormecido, e o Aaron tenha passado demasiado tempo sem oxigénio no cérebro.
A falta de calor humano no primeiro ano, e a eventual falta de oxigénio nos anos seguintes terão contribuído para fazer com que as capacidades mentais do Aaron sejam bastante mais reduzidas que as do Matthias.
Mesmo assim, não falha um aniversário da nossa família, pede fotografias para desenhar o nosso retrato, sabe sempre a nossa idade. Em termos de produtividade num mundo como o nosso, não é muito. Mas é ele a inscrever-se na vida, é ele a encontrar um sentido para o pouco que tem, é ele a mostrar ao mundo inteiro que o coração é mais importante que as capacidades mentais.
Há muita gente com alto QI a quem falta este básico.
Viva o Aaron!
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